“A loucura é a revolta do animal domesticado”

Caro leitor, ninguém mais que você sabe do repúdio que tenho sobre educação. Hoje, a posteriori, já no ensino superior, sinto-me um otário. É verdade. Sinto-me um trouxa por ter ralado no traseiro nos bancos escolares e bancado o aluno politicamente correto para agradar a mamãezinha e a docência escolar. E como se o vazio depois de treze anos de escola, fizesse presente e todas as minhas idealizações fossem por água abaixo.

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Inveja dos Colegas Baderneiros

Na boa, sinto inveja na minha época de estudante daqueles colegas baderneiros que turbulenciavam as aulas e enchiam o saco dos professores. É verdade. Daqueles colegas que pulavam o muro e matavam aula para jogar bola, ou então ficavam no pátio conversando bobagens durante as aulas.

Coisa do tipo: gargalhada sem motivo algum, amizades ligadas ao segredo, gritos histéricos, “falação” de merda, frivolidades e modismos imbecis. Loucura?! Delírio? Não, caro leitor, não estou enlouquecendo, não é um surto psicótico como deve estar achando. É a mais pura verdade.

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Pressão na Escola Particular

Sempre fui aluno de escola particular, criado por mãe professora rígida, onde uma nota sete era considerada uma humilhação. Sempre fui pressionado e comparado com os demais filhos de suas colegas e, como se não bastasse tal pressão, tinha que ter um comportamento exemplar e ser o melhor aluno da turma, pois seus colegas professores e diretores ficavam à espreita e sempre surgia uma ameaça de me dedurar.

Quando estudante, sempre me considerei um bom aluno. Mas, não por ter notas excelentes. Gostava muito de estudar, e o que me motivava, na verdade, naquela época, era o simples fato de questionar e, através deste, ir além do que os professores falavam.

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Questionamentos e Frustrações

Porém, não era um questionamento tão simples (tenho que confessar isso). Queria saber da pré da pré-existência de tudo. Sempre tive essa de querer saber o porquê dos porquês.

Achava que a escola era o lugar mesmo de se discutir essas questões e que o professor sabia de tudo e estava ali disponível para que eu pudesse interrompê-lo para me dar as respostas que eu quisesse. Daí até que veio a humilhação do professor de química dizendo “quem somos nós para contestar o saber da ciência” quando quis saber da existência do átomo no primeiro ano.

As respostas sem sentido da minha antiga professora de ciências quando o assunto era a formação do universo; a impaciência da minha professora de história quando vinha com o turbilhão de questionamentos depois da aula; a apreensão da minha professora de geografia quando via as minhas folhas de papel com várias perguntas. Sempre desconfiei das histórias que contavam, meio que em sentido só, para driblar a essência do que perguntava.

Mudança de Visão na Faculdade

Hoje, na faculdade, parece que a minha visão se tornou mais branda. Parafraseando Jorge de Lima no poema do cristão (não que eu seja um), ele diz: “Por que o sangue de Cristo jorrou em meus olhos a minha visão é universal e tem dimensões que ninguém sabe.”

Tal dimensão que tive sobre educação me levou à conclusão de que não eram os alunos baderneiros que enchiam o saco. Hoje vejo totalmente o contrário. Realmente, eles, os alunos tidos como piores da turma, os incapazes, os fracos, é que estavam certos. Era a escola que enchia o saco deles.

Estudando a escola e o seu papel transformador de cima para baixo, analiso com lucidez e clareza o papel ridículo da educação e os métodos nada inteligentes de muitos professores bossais que encontramos nas escolas e ficamos a reverenciá-los como semideuses. A escola, na minha visão, caro leitor, tornou-se um pesadelo humorístico, um teatro de encenações e comportamentos previsíveis.

Reflexão sobre os Colegas e Áreas de Estudo

Se volto hoje para a escola, caro leitor, no meu estágio revoltoso, diria para os CDFs que não irão para lugar algum.

  • Aqueles de nota dez em matemática e física: não evoluirão como alguns idiotas pensam, achando que a área de exatas se restringe apenas ao estudo aritmético e memorizações absurdas.
  • Para os amantes da língua portuguesa: tudo não passa de um teatro linguístico, e se arrependerão de ter corrigido o colega que disse “teiado” quando o “certo” seria telhado.
  • Para os amantes da história: a humanidade marcha para a hostilidade.
  • Para os futuros geógrafos: a geopolítica é dotada da burrice humana e omissão de todo mundo.

Recomendação de Leituras e Filmes

Para os que sonham alto com a possibilidade de mudança, recomendaria:

  • O Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.
  • As Mais Belas Mentiras, de Maria de Lourdes Chagas Deiro Nossela.
  • O filme Pink Floyd – The Wall, de Alan Parker.

A universidade, para mim, caro leitor, seria um luxo burguês, uma instituição aberta para os sonhos inatingíveis da classe média.

Estudando sobre a fachada do que é a avaliação e a escola, no seu contexto social, a minha cabeça se torna um filme de frustrações e indignações. Digamos que um flashback pós-traumático.

Um Retorno Rebelde à Escola

Penso que, se hoje voltasse à escola, lideraria motins nos pátios do colégio, fuzilaria professores e diretores, falaria mais bobagens, daria o calote na moça da cantina, picharia o muro das escolas, seria o pior aluno da classe, não estudaria para fazer provas, colaria dos CDFs idiotas, levaria bebidas para a escola, namoraria com mais frequência nos corredores, faria questão de ser o mais débil da sala, o mais retardado da turma. Repetiria o ano e daria dor de cabeça para os professores.

Reflexão Final

Cazuza certa vez bradou: “Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga ideia de paraíso que nos persegue, bonita e breve, que só dura 24 horas.”

Danillo Cerqueira Barbosa é estudante, professor e escritor. Texto escrito em 28/03/06.