Sempre fui criado com uma visão de meus pais, de que tudo o que se passou era melhor do que hoje. Que no seu tempo a vida era melhor e que hoje vivemos pagando um carma que não tem fim de uma realidade que parece pousar sobre o hoje e a relação de interdependência com o que já se foi não tem uma correlação.
A política na visão do pai
Meu pai carpinteiro, ignorante, até hoje discursa que no seu tempo a existência de dois partidos “ARENA1” e “ARENA” (que nada mais é do que os partidos de ultra direita da ditadura militar) era o que havia de melhor na política. Tudo bem, sei dos infinitos partidos e o troca-troca de candidatos não beneficia ninguém. Mas, retornar aquele tempo onde não se podia nem ao menos falar o que se pensava? Complicado!
A educação segundo a mãe
Minha mãe com sua visão romântica da vida, professora aposentada, sempre dizia que a educação no seu tempo era melhor do que a atual. E que hoje os meninos só querem saber de vídeo-game e computação, que os alunos de hoje não têm respeito pelo professor. Dizia que no seu tempo, aprendia-se mais do que hoje em dia. Meu pai, na mesma sandice, falava que quando o indivíduo nascia pra ser ruim, já via de dentro dele.
Reflexões sobre a educação e o comportamento humano
Mas como Deus é divino, ele me deu discernimento suficiente. E me fez perceber que a educação de antes era tão ruim quanto a de hoje. Que memorizar fatos absurdos é uma agressão contra a memória. Que respeito não é imposto, e sim conquistado, por uma boa relação com o aluno e assim como os alunos daquele tempo deixavam a escola, por gostarem de pular corda, e brincar de amarelinha, os alunos atuais também. Só que os tempos mudaram e trocam-se realmente a escola pelos vídeo-games e computação. É até mais interessante.
E o indivíduo não nasce pra ser ruim, é que não imaginávamos que as nossas crianças tinham uma sensibilidade tão grande para captar as más posturas dos pais desde cedo. Que, a depender de como as tratamos ao longo do tempo, essa criança sensível pode se tornar um grande monstro, para família e até mesmo para a sociedade. Viva a psicologia!
A diversidade e os preconceitos do pai
Meu pai, quando ligava a televisão e via os homossexuais casando nos EUA, saía comentando dentro de casa: “Mas meu Deus, é fim de mundo!” Homossexuais sempre existiram, se o mundo era pra se acabar que terminasse lá desde o período romano. E eu fico feliz com os gays se aparecendo na televisão, nada contra. O diverso tem que ser encarado como algo interessante e sério.
Opiniões políticas de outros familiares
Meu tio falou que o Lula não iria governar o país e que o Brasil não tem mais jeito... e lá se vai o segundo mandato do Lula e sempre vejo um certo rumor de um possível terceiro. Quem apostou no pessimismo se deu mal porque, pensando bem, caminhamos para uma das maiores revoluções em todos os setores que esse país já viu.
O medo do fim do mundo
Meus pais me contaram, assim como os amigos de sua geração, que a gente não passaria do ano 2000. (E muitas pessoas engravidaram com medo de que o mundo acabasse exatamente no início do século). E lá entramos em 2010. Outros falaram que não passaríamos deste século, mas essa incerteza também foi criada no século XIX assim como sempre há em términos de séculos. O fim de mundo também não seria no tempo da peste negra? Quando ela dizimou mais 2/3 da Europa?
Mudanças na civilização
O que está havendo, penso, é uma grande mudança na civilização (um purgatório provisório), exatamente em seus pilares sociais. Por isso, sigo o raciocínio do Gasparetto quando ele fala na sua poesia chamada O segredo para felicidade:
Não há conflitos / Existe apenas a necessidade de mudar.
Não há desencontro / Apenas mudança de rumo.
Construção de novos alicerces
Esse intervalo, essa busca de respostas talvez seja justamente os novos alicerces que estão sendo construídos. Essa matança entre pais é o equilíbrio a ferro-e-fogo que está sendo consolidado entre famílias. Até o próprio homem está mudando no seu cerne. Toda essa angústia, neurose, essa máxima pela liberdade em que tudo está sem fronteiras e sem limites, ainda que de uma forma tresloucada, quem sabe, pode nos levar a algum lugar.
Reflexões sobre o futuro
E que se o mundo for de acabar, que acabe. Mas enquanto vivo, sempre terei esperanças aguardando a tão famigerada luz no fim do túnel. Pois penso que toda crise, seja lá em que instância for, é boa. E refletindo entre o ontem e o hoje, prefiro ficar com os tropeços do agora.
O que precisamos apenas é encontrar o fio da meada, que perdemos não sei em que momento da história.
Autor
Danillo Cerqueira Barbosa é estudante da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, professor e escritor.
Texto engavetado no ano 2009 e concluído em 30/01/2010.
E-mail: danillo1987@hotmail.com