Hoje, tornou-se comum o termo apolítico, e cresce o número de seus adeptos.
Os dissidentes da política atual justificam o ocorrido como parte da decadência da democracia. Outros se dizem ser perante seu descontentamento com atos ou personagens políticos.
A Democracia Capitalista: Falhas e Limitações
De fato, apontar uma falha na tão esperada (e porque não, lutada) democracia capitalista não a torna diferente e nem mesmo superável; como a historia pode mostrar em diversas tentativas de regimes pelo mundo.
E ainda que possam ser usados como artifícios no jogo político, a política não significa apenas expectativas e esperanças; a administração de um Estado vai muito além. Então deixemos o sentimentalismo de lado e partamos para ações mais reais, concretas e definitivas.
Frente à essas demonstrações consigo apenas pensar na antiga premissa de que nunca estamos satisfeitos com o que temos.
Não tenho com este, o propósito de defender ou banalizar qualquer visão ou conceito referente ao atual sistema, sim analisar suas verdadeiras propostas e regência da ordem no globo (ao menos em sua maior parte).
Analisando Propostas Políticas: A Visão de Albert O. Hirschman
Para melhor entendimento, utilizarei um conceito de Albert O. Hirschman, um respeitado cientista social nascido em Berlim em 1915; no inicio da década de 1970 introduziu em sua análise termos que denominou saída e voz.
Na definição do próprio autor: A saída é pura e simplesmente o ato de partir, em geral porque se julga que um bem, serviço ou beneficio melhor é fornecido por outra firma ou organização.
[...]
A voz é o ato de reclamar ou organizar-se para reclamar ou protestar.
(Albert O. Hirschman – Auto Subversão p. 20)
Em sua análise, pode-se perceber que de um modo geral, a saída caracteriza-se por uma ação indireta, e mesmo não intencional que pode resultar na melhoria do desempenho da organização afetada. Enquanto a voz trata-se de uma ação direta que visa a recuperação de uma deteorização ou implementação de uma melhoria a um mais curto prazo.
Como mostra o Professor Hirschman, tendem a ser ações inversamente proporcionais, ou seja, a medida que um aumenta o outro diminui no que chamou de padrão “gangorra” ou mesmo explicado pelo modelo “hidráulico”: a deteorização gera a pressão da insatisfação, a qual será canalisada para a voz ou a saída; quanto mais pressão escapa pela saída, menos dela ficará disponível para impulsionar a voz. (Albert O. Hirschman – Auto Subversão p. 21)
Esse simples modelo, mesmo que capaz de explicar inúmeros exemplos, tem seus espasmos de exceção, como o próprio autor é capaz de mostrar com o exemplo da República Democrática Alemã (RDA) em 1989.
No entanto utilizarei o sistema de gangorra entre saída e voz como padrão, capaz de explicar o momento em que nos encontramos.
O que vejo dissipado em qualquer que seja a área de foco no mundo é a possibilidade de mobilidade ou mesmo uma mera ilusão de que haja muitas dessas possibilidades e que sejam tangíveis.
O Crescimento do Sentimento Apolítico
Qual o intuito de apresentar um contingente tão numeroso de possibilidades não importando quão improvável seja de ser alcançado?
O fato é que as possibilidades de mudança significam a saída de cada situação especifica. Seu excesso representa, portanto a facilidade de fuga da realidade que em contrapartida cala a voz. Todo um mundo de inovações, concorrências, mutações e possibilidades geram essa mesma seqüência lógica de fuga e representação da voz em cada indivíduo; transformando-o nesse aparente ser apático à própria realidade.
Nesse caso, saída e voz tornam-se artifícios políticos; outorgando a saída, mantém-se a voz em silêncio e a ordem no planeta continua.
Entretanto não há organização especifica que podemos acusar de fazê-lo, o próprio desenvolvimento do sistema para se adaptar à diferentes maneiras deram origem a mecanismos que criem e mantenham sua necessidade, e até o momento tem se mostrado eficaz em fazê-lo.