RESUMO
Trata-se de um artigo de revisão bibliográfica sobre a atuação do Enfermeiro no cuidado de crianças com sobrepeso/obesidade na pré-escola. O estado nutricional de uma população é um excelente indicador de sua saúde e de qualidade de vida, espelhando o modelo de desenvolvimento de uma determinada sociedade. No que diz respeito às crianças, seu estado nutricional possui papel fundamental para que seu crescimento seja progressivo e para que ela desenvolva suas aptidões psicomotoras e sociais. OBJETIVOS: descrever o estado nutricional de crianças na pré-escola com foco no sobrepeso/obesidade e analisar a atuação do enfermeiro na atenção à saúde de pré-escolares com sobrepeso/obesidade a partir de sua formação. MÉTODOS: Pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa, por meio de pesquisa eletrônica em base de dados Lilacs, Medline, Scielo, BVS, Google acadêmico e livros textos especializados na temática proposta, no período de 1989 a 2009. DISCUSSÃO: A escola tem sido enfatizada como um dos locais mais adequados para a realização de levantamentos do estado nutricional de crianças e é estratégico para prevenção e recuperação de crianças com distúrbios nutricionais, principalmente as provenientes de estratos socioeconômicos mais baixos. Quanto mais cedo diagnosticado o sobrepeso/obesidade, mais problemas serão evitados. Constata-se a partir do Art.4º da Resolução CNE/CES (2001) das DCN, a autonomia do enfermeiro na atenção básica à saúde, com relação ao diagnóstico e a identificação das doenças e os possíveis agravos mais comuns na sua área de atuação profissional. CONSIDERAÇÕES: A importância de abordar o tema sobrepeso/obesidade na pré-escola se justifica pela escassez de trabalhos científicos elaborados por enfermeiros, assim como a carência destes para atuar nas escolas. Como acadêmicas vimos a importância de nos preparar para atuar nesta área ainda pouco estudada no nosso país. É relevante também ressaltar a prevalência da obesidade, que vem crescendo ao longo dos anos e se tornando um problema de saúde pública.
1 INTRODUÇÃO
O estado nutricional de uma população é um excelente indicador de sua saúde e de qualidade de vida, espelhando o modelo de desenvolvimento de uma determinada sociedade1. Constitui importante marcador qualitativo de saúde de uma determinada comunidade e, sua apropriada avaliação representa valioso instrumento para identificar a freqüência e a intensidade de agravo nutricional em uma população definida2.
No que diz respeito às crianças, seu estado nutricional possui papel fundamental para que seu crescimento seja progressivo e para que ela desenvolva suas aptidões psicomotoras e sociais. Alterações de déficit ou excesso expõem tais crianças a riscos potencias de agravos à saúde, bem como a futuros problemas de relações interpessoais e funcionais dentro da comunidade3.
A escola tem sido enfatizada como um dos locais mais adequados para a realização de levantamentos do estado nutricional de crianças porque a maior parte dessa população freqüenta a escola, é influenciada pelos professores, os quais, por sua vez, têm bastante contato com seus alunos, durante a maior parte do ano. Torna-se, além disso, um local estratégico para prevenção e recuperação de crianças com distúrbios nutricionais, principalmente as provenientes de estratos socioeconômicos mais baixos4,5. Quanto mais cedo diagnosticados, mais problemas serão evitados6.
Neste estudo, abordaremos o sobrepeso/obesidade infantil na pré-escola.
Segundo Piaget, define-se como pré-escolar aquela criança cuja idade vai dos dois aos seis anos7.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação n.º 92/96 no Brasil se baseia na definição de pré-escolares citado acima8.
A obesidade se caracteriza por um aumento de tecido adiposo e é um distúrbio nutricional resultante do balanço positivo de energia na relação ingestão calórica, acarretando prejuízos à saúde9. Já o sobrepeso, é definido como uma proporção relativa de peso maior que a desejável para a altura. Ambos são condições de etiologia multifatorial, cujo desenvolvimento sofre influência de fatores biológicos, psicológicos e sócio-econômicos10.
Segundo dados do Ministério da Saúde do Panamá (MINSA), no Brasil, uma em cada cinco crianças entre 6 e 12 anos de idade, o que representa 20% da população infantil, sofre de obesidade e, uma em cada três corre risco de ser obeso futuramente. O problema também tem aumentado em menores de cinco anos. Em 1997, o problema afetava 16,9% e em 2003, este número aumentou para 23,2%. De acordo com um comunicado do MINSA, diversos estudos indicam que crianças com obesidade entre os seis meses e os sete anos de idade têm 40% de chance de serem obesos na idade adulta. O risco aumenta para 70% quando a obesidade é registrada entre os 10 e 13 anos de idade11.
Nos curriculuns de graduação em enfermagem superior, observamos a carência na formação do profissional enfermeiro no que diz respeito à sua atuação com relação à obesidade infantil. No Brasil, a política de Saúde escolar está inserida na Estratégia de Saúde da Família, porém na prática ainda não obteve os resultados esperados. O Enfermeiro como um dos profissionais atuantes nesta equipe, devido a sobrecarga de ações, não tem conseguido implementar esta política na sua prática, ou seja, atuar nas escolas. Ainda ocorre de forma esporádica, através de empenhos particulares.
A Saúde Escolar integra a atenção básica à saúde.
A importância de abordar o tema sobrepeso/obesidade infantil na pré-escola se justifica pela escassez de trabalhos científicos elaborados por enfermeiros. Soma-se a isso a carência de profissionais preparados para atuar nas escolas com o problema do sobrepeso/obesidade infantil. Como acadêmicas vimos a importância de nos preparar para atuar nesta área ainda pouco estudada no nosso país. É relevante também ressaltar a prevalência da obesidade que vem crescendo ao longo dos anos, e se tornando um problema de saúde pública.
Dados recentes revelam que 1 a cada 4 crianças pré-escolares está acima do peso e, 1 a cada 10 é obesa12.
Diante do exposto, este estudo tem como objetivos: descrever o estado nutricional de crianças na pré-escola com foco no sobrepeso/obesidade e analisar a atuação do enfermeiro na atenção à saúde de pré-escolares com sobrepeso/obesidade a partir de sua formação.
Este estudo pretende contribuir com a produção de trabalho científico acerca do tema e com a qualidade da formação do enfermeiro, promover uma discussão sobre a sua formação voltada para a Saúde Escolar, um tema já discutido há alguns anos, porém pouco aplicado na área da saúde.
2 MÉTODOS
O estudo consiste em uma pesquisa bibliográfica com abordagem qualitativa, abrangendo artigos de periódicos, dissertações, teses, por meio de pesquisa eletrônica em base de dados Lilacs, Medline, Scielo, BVS, Google acadêmico, respectivamente, e livros textos especializados na temática proposta, no período de 1989 a 2009. A Pesquisa bibliográfica é atividade de localização e consulta de fontes diversas de informação escrita orientada pelo objetivo explícito de coletar materiais mais genéricos ou mais específicos a respeito de um tema13.
Este estudo se estruturou da seguinte forma: foi elaborado um roteiro com as seguintes informações: tipo de texto: completo ou resumo; pesquisa, relato de experiência, reflexão; ano de publicação; palavras-chave; qual base de dados consultada; qual o nome do periódico; instituição e titulação dos autores; conteúdo.
Após a leitura do material bibliográfico, realizou-se uma resenha dos principais textos, anotou-se de forma ordenada e criteriosa, colocando as referências bibliográficas segundo as normas de ICMJE (VANCOUVER).
As bases de dados forneceram referências pertinentes ao tema abordado, dando condições para identificar, analisar e discutir acerca do objeto de estudo, como também possibilitou conhecer novas abordagens sobre sobrepeso/obesidade.
Utilizamos as seguintes palavras-chave na busca dos periódicos em base de dados: atuação e formação do enfermeiro, sobrepeso/obesidade e pré-escolar, a competência e a legislação vigente sobre a educação em saúde escolar, atenção básica. Foram excluídos deste estudo trabalhos em resumo com texto não disponível e de abordagem quantitativa sobre o tema.
Os artigos dos periódicos foram selecionados após leitura dos textos, e aqueles que contemplaram o objeto deste estudo foram resumidos e analisados. Na totalidade, foram identificados 56 trabalhos e destes, 38 foram utilizados neste estudo. A última etapa do trabalho constou na utilização do material resenhado para montagem e elaboração do trabalho de conclusão de curso (TCC).
3 REVISÃO DA LITERATURA
3.1 Estado Nutricional de crianças na pré-escola
Nutrição é o processo através do qual os seres vivos recebem e utilizam as substâncias necessárias à manutenção da vida, ao crescimento, ao funcionamento normal dos órgãos e a produção de energia14.
Muitos fatores interferem neste processo, como por exemplo, o consumo alimentar, a atividade física, problemas de saúde, entre outros. Principalmente no caso da criança, o processo de crescimento sofre influências de fatores intrínsecos (genéticos, metabólicos e más formações, muitas vezes correlacionadas, ou seja, podem ser geneticamente determinados) e de fatores extrínsecos, dentre os quais se destacam a alimentação (com destaque para o aleitamento materno e desmame), a saúde, a higiene, a habitação, a atividade física e os cuidados gerais com a criança4,14,15,16.
Com relação à alimentação, o aleitamento materno é a principal estratégia de prevenção dos agravos nutricionais na infância, principalmente na idade pré-escolar. A duração do aleitamento materno preconizada é de 180 dias, devendo ser exclusivo. Depois de transcorridos os seis meses é que deverá ser iniciado o desmame, com a introdução de outros tipos de alimentos. As vantagens da amamentação são amplamente comprovadas pela literatura, pois reduz a morbi-mortalidade infantil e favorece o desenvolvimento da criança: possui alto valor nutritivo, contribui para diminuir o risco de contaminação e fortalece o laço afetivo entre mãe e filho17.
Toda vez que houver um desvio no processo normal de nutrição, estaremos frente a uma doença nutricional, que poderá relacionar-se tanto a uma deficiência, quanto a um excesso de nutrientes, denominados desnutrição e obesidade respectivamente14.
Para Chagas et al. (1999), a obesidade infantil, apesar de extensamente estudada no mundo, é pouco estudada no Brasil. Estima-se que cerca de 20% das crianças e adolescentes brasileiros são obesos e as crianças mais atingidas ainda pertencem às classes sociais mais privilegiadas, apesar da tendência recente de mudanças nesses perfil18.
Define-se como Sobrepeso o aumento excessivo de peso corporal total que pode ocorrer em consequência de modificações em apenas um dos seus constituintes (gordura, músculo, osso e água) ou em seu conjunto; já a obesidade refere-se ao aumento na quantidade generalizada ou localizada de gordura em relação ao peso corporal, associado ao elevado risco à saúde19.
Os fatores determinantes da obesidade são vários, dentre eles, o sedentarismo e mudanças nos padrões de consumo alimentar, como por exemplo, a maior ingestão de alimentos de alta densidade energética. O nível de escolaridade e a renda da família têm sido identificados como variáveis que podem interferir na forma como a população escolhe seus alimentos, na adoção de comportamentos saudáveis e na interpretação das informações sobre cuidados para a saúde podendo, portanto, influenciar a magnitude da prevalência do sobrepeso e da obesidade20. Nas últimas décadas, o estilo de vida moderno, marcado por uma redução acentuada nos níveis de atividade física (outros tipos de brincadeiras, mais tempo em frente à televisão, uso freqüente de computador e maior dificuldade de brincar na rua por motivos de falta de segurança pública), tem resultado em um aumento significativo da obesidade infantil no mundo21.
A obesidade pode predispor a criança às mais variadas complicações, como problemas respiratórios, Diabetes, Hipertensão Arterial Sistêmica, dislipidemia, entre outros. Pode acarretar, além disso, isolamento e afastamento das atividades sociais devido à discriminação e a aceitação diminuída pela sociedade. Tais problemas podem vir a comprometer, inclusive, a vida adulta, já que estas crianças têm um risco aumentado de se tornarem adultos obesos9. É importante ressaltar que os distúrbios nutricionais podem se iniciar precocemente na infância, razão pela qual o diagnóstico precoce é de fundamental importância22.
Vários métodos podem ser utilizados para diagnóstico nutricional. Os métodos existentes são: antropométricos (peso, estatura, índice de massa corporal, circunferência do braço, dobra cutânea triciptal e circunferência muscular do braço), laboratoriais (hemograma, dosagem de albumina sérica e proteínas totais, glicemia de jejum, parasitológico de fezes, sumário de urina) e clínicos (investigação de edema e medida de pressão arterial)15, 23.
A Antropometria, que consiste na avaliação das dimensões físicas e da composição global do corpo humano, tem se revelado como o método isolado mais utilizado para o diagnóstico nutricional, pela facilidade de execução, baixo custo e inocuidade. As medidas mais frequentemente utilizadas têm por objetivo determinar a massa corporal, expressa pelo peso; as dimensões lineares, especialmente a altura; a composição corporal e as reservas de energia e proteínas, estimadas pela gordura subcutânea e pela massa muscular. Os métodos laboratoriais têm sido desenvolvidos principalmente com o objetivo de avaliar com mais precisão a composição corporal23,24.
Em crianças, o método mais empregado é a análise do peso e estatura corporais, combinados ou não a outros indicadores antropométricos (índice de massa corporal, circunferência do braço, dobra cutânea triciptal e circunferência muscular do braço)23,24. Mas mesmo se restrito à aferição de peso e estatura, a importância do diagnóstico nutricional na infância através da antropometria se dá devido à objetividade da medida, possibilidade de comparação com padrão de referência e a facilidade de realização, principalmente quando em estudos populacionais15.
As classificações nutricionais antropométricas mais utilizadas na prática pediátrica são: a de Gómez, a de Waterlow e a da Organização Mundial de Saúde (OMS)23.
O cartão da criança atualmente é o instrumento usado para orientar o monitoramento nutricional de crianças menores de sete anos sendo que, a mãe ou responsável deve ser muito bem orientado para compreender as informações contidas no cartão, guardá-lo em boas condições e apresentá-lo em todos os contatos com profissionais e/ou serviços de saúde infantil, dentro da abordagem dos cuidados primários de saúde25.
O Ministério da Saúde preconiza também como classificação do estado nutricional infantil o percentil, por entender que é a forma mais simples e de fácil compreensão e utilização. Assim, investigam-se os níveis nutricionais: peso muito baixo para a idade; peso baixo para a idade; risco nutricional; adequado ou Eutrófico; risco de sobrepeso25.
3.2 Atuação do Enfermeiro na Saúde Escolar
Identificamos que a Saúde Escolar integra a Atenção Básica à Saúde, sendo importante ser revista as suas competências com relação à saúde de pré-escolares e a atuação do enfermeiro neste espaço.
No Brasil a primeira organização do Sistema Nacional de Saúde foi em 1975. Mas somente a parir de 1978 que a atenção à saúde foi estabelecida como doutrina, na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde e, posteriormente em 1980 a Organização Pan – Americana de Saúde para as Américas, que buscaram as estratégias para se instalar um sistema de saúde eficaz, eficiente e equitativo.
A experiência em todos os países mostrou que, quando os sistemas de saúde são orientados pela atenção primária, eles estão associados a menores custos, maior satisfação da população, melhores níveis de saúde e menor uso de medicamentos.
O sistema de saúde atual, o SUS, adotou o modelo da hierarquização, dos serviços de saúde e os organizou por níveis de atenção que variam segundo as suas respectivas densidades tecnológicas: atenção primária ou básica, secundária, terciária e quaternária.
As características principais da atenção primária são: universalidade ao acesso; existência uma equipe formada por enfermeiro, auxiliar de enfermagem, médico generalista e agentes de saúde; percentual da força de trabalho médica nela envolvida maior que a dos especialistas; deve ser o primeiro contato dos pacientes com o sistema (a porta de entrada); os cuidados prestados devem ser contínuos ao longo do tempo; integralidade dos cuidados; deve contar com o mecanismo de referência e contra – referência; deve estar centrada na família e ter orientação comunitária.
Neste contexto se insere a Estratégia de Saúde da Família e nesta, a Saúde Escolar.
O termo “Atenção Básica” deve ser entendido como a forma estratégica de organização do primeiro nível de atenção do sistema de saúde.
A “Atenção Básica” deve, necessariamente, ser estruturada de forma descentralizada, em cada município, nos seus territórios de abrangência tendo como base organizacional a epidemiologia.
Se ela for organizada sem a garantia de referência aos níveis secundário e terciário, transformar – se – á, necessariamente, em atenção médica seletiva; ao contrário, a organização dos níveis secundário e terciário, sem uma base resolutiva de atenção primária, significará a medicalização do sistema de saúde e aumento exagerado dos custos, que infelizmente é o que vem ocorrendo em muitas regiões de nosso país26.
Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 93/94), a educação pré-escolar está definida na Sessão II, no Art. 308:
Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três a de idade;
II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade.
Segundo Piaget, estágio de desenvolvimento é considerado o estágio pré-operacional, que coincide com a fase pré-escolar e vai dos 2 anos de idade até os 6. Nesse período, as características observáveis mais importantes são: inteligência simbólica; o pensamento egocêntrico e intuitivo; a centração (apenas um aspecto de determinada situação é considerado); a confusão entre aparência e realidade; a noção de irreversibilidade7.
O papel do professor na pré-escola é muito importante para a formação intelectual do aluno. Porém, este profissional não é preparado no que diz respeito à promoção da saúde e prevenção de doenças.
Surge então a necessidade da atuação do profissional da área da saúde para que em parceria com a escola desenvolva a promoção e a prevenção da saúde dos pré-escolares.
Com a educação escolar obrigatória e acessível a todas as classes sociais no século XIX, surge o chamado fracasso escolar, a maneira medicalizada de explicar problemas oriundos de esferas sócio-econômicas. Dessa forma a temática saúde entra na escola. Hoje, observa- se ainda que as ações de saúde realizadas nas escolas se restringem à prevenção de doenças, de modo a criar um padrão de indivíduo saudável, ignorando suas condições de vida.
O enfermeiro possui conhecimento científico e isso, lhe facilita trabalhar junto ao aluno não só na promoção da saúde e prevenção de doenças como também em atividades educativas propriamente ditas27.
O enfermeiro está apto a conscientizar pré-escolares e seus responsáveis para a adoção de um estilo de vida mais saudável. Assim, esse profissional cumpre sua missão enquanto agente diferenciador na promoção da saúde coletiva no Brasil28.
O Enfermeiro é um profissional capacitado para atuar na Atenção básica à Saúde, conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) da área de Enfermagem, descrito no Art.4º da Resolução CNE/CES Nº 3, de 7 de novembro de 200129:
Art. 4º A formação do enfermeiro tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades gerais:
I - Atenção à saúde: os profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional, devem estar aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos. Os profissionais devem realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução do problema de saúde, tanto em nível individual como coletivo.
Constatamos a partir deste Art. a autonomia do enfermeiro na atenção básica à saúde, com relação ao diagnóstico e a identificação das doenças e os possíveis agravos mais comuns na sua área de atuação profissional29.
Ainda em seu Art. 5.º dispõe sobre as competências do enfermeiro29:
Art. 5º A formação do enfermeiro tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades específicas:
I – promover estilos de vida saudáveis, conciliando as necessidades tanto dos seus clientes/pacientes quanto às de sua comunidade, atuando como agente de transformação social.
Segundo as DCN, o enfermeiro é um dos profissionais formados para atuar na educação em saúde. Neste estudo compreendemos que o foco da educação em saúde esta voltado para a população e para a ação. Seus objetivos são encorajar as pessoas a adotar e manter padrões de vida sadios, usar de forma cuidadosa os serviços de saúde colocados à sua disposição e tomar sua próprias decisões, visando melhorar suas condições de saúde e as condições do meio ambiente30.
Vale dizer ainda que a educação em saúde deve promover o senso de identidade individual, a dignidade, a responsabilidade, a solidariedade e a responsabilidade comunitária. A isto se acrescenta que, a Educação em Saúde é um dos mais importantes elos de ligação entre os desejos e expectativas da população por uma vida melhor e as projeções e estimativas dos governantes ao oferecer programas de saúde mais eficientes30.
A abordagem da temática educação para saúde oferece espaço para a atuação do enfermeiro, inclusive em escolas, através da realização de práticas educativas com escolares. Desta forma contemplando a promoção e a prevenção da saúde.
A promoção da saúde escolar busca modificar condições de vida para que sejam dignas e adequadas; aponta para a transformação dos processos de tomada de decisão dos responsáveis pelos pré-escolares visando à qualidade de vida e à saúde e orienta um conjunto de ações e decisões coletivas da comunidade escolar que possam favorecer a saúde e a melhoria das condições de bem estar31.
Porém, com relação à formação do enfermeiro visando sua atuação na saúde da criança, verificamos nas grades curriculares do curso de enfermagem de algumas Universidades do Brasil que, o tema sobrepeso/obesidade é pouco abordado, o que caracteriza uma lacuna em sua formação, considerando o sobrepeso/obesidade hoje um dos agravos relevantes à saúde da criança32,33,34,35,36,37,38 .
4 Discussão dos Resultados
A obesidade nos pré-escolares é considerada atualmente como um problema de saúde pública devido a sua prevalência que vem crescendo ao longo dos anos.
Neste estudo, verificamos que a escola tem sido enfatizada como um dos locais mais adequados para a realização de levantamentos do estado nutricional de crianças e é estratégico para prevenção e recuperação de crianças com distúrbios nutricionais, principalmente as provenientes de estratos socioeconômicos mais baixos. Detectamos que, quanto mais cedo diagnosticado o sobrepeso/obesidade, problemas de saúde futuros nos pré-escolares poderão ser evitados.
Constatamos que o enfermeiro, embasado no Art.4º da Resolução CNE/CES (2001) das DCN, tem autonomia na atenção básica à saúde, com relação ao diagnóstico e a identificação das doenças e os possíveis agravos mais comuns na sua área de atuação profissional.
Com relação ao estado nutricional de crianças na pré-escola focando o sobrepeso/obesidade, entendemos que quando este se torna um agravo à saúde da população, justifica a participação, atuação e intervenção do enfermeiro.
Nos artigos encontrados, constatamos que muitos fatores interferem no processo que desencadeia o sobrepeso/obesidade, como por exemplo, o consumo alimentar inadequado, falta de atividade física, distúrbios metabólicos, dentre outros. No caso da criança, o processo de crescimento sofre interferências de vários fatores como os genéticos, metabólicos e más formações, alimentação inadequada, desmame precoce e condições de vida precárias.
A obesidade sendo um agravo de maior intensidade pode predispor a criança a várias complicações como problemas respiratórios, Diabetes, Hipertensão Arterial Sistêmica, dislipidemia, entre outros. Além disso, pode levar ao isolamento social devido à discriminação e preconceito da sociedade. Neste contexto, estas crianças podem se tornar adultos obesos. O diagnóstico precoce dos distúrbios nutricionais é fundamental na infância para se iniciar um programa de acompanhamento e prevenção do sobrepeso/obesidade.
A pré-escola tem papel fundamental neste processo, porém ela não dispõe de profissionais que se encontrem em condições de atuar nesta área. Ela necessita de profissionais de saúde que estejam mais próximos da comunidade e tenham contato direto com a mesma. É a Estratégia de Saúde da Família (ESF) ou Unidade Básica de Saúde (UBS) que é responsável pela atenção primária na comunidade, inclusive, para as escolas e creches. A Saúde Escolar integra a Atenção Básica à Saúde, sendo mais uma área de atuação da ESF onde se faz necessário rever as competências deste programa com relação à saúde de pré-escolares e a atuação dos profissionais de saúde neste espaço.
Analisando a atuação do enfermeiro na atenção de pré-escolares com sobrepeso/obesidade, vimos que este não possui o preparo adequado para atuar nesta área. Em sua formação, este tema é pouco abordado na grade curricular do Curso de Enfermagem conforme análise de curriculuns de diversas instituições de ensino superior.
Percebemos, no entanto, que o enfermeiro é o profissional de saúde que mais se aproxima deste espaço, buscando desenvolver a educação em saúde, que é uma de suas competências. Com relação à Atenção Básica à Saúde, o enfermeiro é capacitado para atuar nesta área, conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) da área de Enfermagem. Segundo as DCN ele deve estar apto a desenvolver ações de promoção, prevenção, proteção, intervenção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Desta forma, estimular um estilo de vida saudável, conciliando as necessidades dos seus clientes/pacientes e da comunidade, atuando como agente de transformação social.
Neste trabalho, identificamos uma lacuna na formação deste profissional, principalmente porque o sobrepeso/obesidade hoje é um dos agravos importantes à saúde da criança.
A formação precisa proporcionar ao futuro enfermeiro conhecimento pertinente a realidade de saúde da comunidade, tornando-se possível durante as práticas e os estágios realizados em UBS na disciplina de Estágio Supervisionado.
A realidade da ESF é trabalhar com o diagnóstico da comunidade na área de atuação e a partir daí intervir diante dos problemas levantados, porém a equipe não dispõe de número de pessoal suficiente para realização deste trabalho.
Vimos que o programa não contempla a saúde escolar. O enfermeiro deve então, estudar estratégias direcionadas à saúde escolar. Neste estudo focamos o sobrepeso/obesidade nos pré-escolares. Uma das estratégias poderia ser a parceria com as instituições de ensino superior e desta forma aprimorar a formação teórico-prática voltada especificamente para este tema prevalente na pré-escola, enriquecendo a grade curricular, aonde o aluno pode atuar diretamente na comunidade.
5 Conclusão
Como acadêmicas do curso de enfermagem, consideramos importante abordar o tema atuação do enfermeiro no cuidado de crianças com sobrepeso/obesidade na pré-escola, pela escassez de trabalhos científicos elaborados por enfermeiros, assim como a carência destes para atuar nas escolas. Vimos a importância de nos preparar para atuar nesta área ainda pouco estudada no nosso país, já que a prevalência da obesidade vem crescendo ao longo dos anos e se tornando um problema de saúde pública.
Ao longo da pesquisa realizada por nós, constatamos a existência do enfermeiro inserido na equipe que compõe a Estratégia da Saúde da Família (ESF), sendo este o profissional responsável pela atuação e intervenção em creches e escolas. Porém, constatamos que este é sobrecarregado de funções cotidianas de seu serviço e isso acaba não possibilitando ao enfermeiro dar a devida importância que o assunto merece, dificultando assim as intervenções que se fazem necessárias.
Gostaríamos de contribuir para uma reflexão quanto à formação dos futuros enfermeiros no que diz respeito ao sobrepeso/obesidade de crianças pré-escolares. A disciplina Saúde da Criança existe na maioria das grades curriculares pesquisadas, portanto, isto já se torna um caminho para trabalhar este tema tão relevante atualmente.
Este artigo nos proporcionou a busca e produção do conhecimento em relação à área de conhecimento e atuação da enfermagem, que se fazem necessárias para o nosso crescimento profissional.
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