Como administrar uma organização com mais de 7 bilhões de diferentes?

Como administrar uma organização com 7 bilhões de diferentes?

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Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra.

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Gênesis 1,28

A Ásia, onde vivem dois terços da população mundial, recebeu simbolicamente o ser humano número 7 bilhões: uma pequena filipina de nome Danica, cujo nascimento foi celebrado em Manila e ilustra os desafios planetários do crescimento demográfico. Nasceu o heptabilionésimo bebê e a cada dia mais 219 mil novos habitantes chegam para compartilhar recursos de um planeta finito, com infindáveis carências básicas.

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A população mundial levou 12.000 anos para chegar ao primeiro bilhão em 1800. Depois acrescentou o mesmo tanto em intervalos de 123 anos; 32 anos; 15 anos; 13 anos; 12 anos; e 12 anos novamente para chegar em 31/10/2011 em 7 bilhões de pessoas.

Essa fantástica expansão humana deveu-se a crescentes taxas de natalidade, queda de mortalidade infantil e aumento da expectativa de vida. Mas o ritmo de nascimentos começa a diminuir e as projeções da ONU indicam que chegaremos em 8 bilhões em 2024 (intervalo de 13 anos); 9 bilhões em 2045 (intervalo de 21 anos); e finalmente 10 bilhões no final do século (intervalo de 55 anos), para então se estabilizar nesse patamar.

Dos atuais 7 bilhões de pessoas, 1,8 bilhão são jovens com idades entre 10 e 24 anos. Os jovens sempre terão a chave do futuro, com o potencial de transformar a paisagem política global e impulsionar economias através da sua criatividade, capacidade de inovação e força empreendedora.

Cresce a população, cresce a urbanização. A transição para sociedades urbanas continuará em ritmo acelerado, passando dos atuais 50 % para algo em torno de 70 % em 2050, sendo mais um fator de pressão para os já escassos recursos naturais.  O século XXI será o tempo das mega cidades, conglomerados urbanos com mais de 10 milhões de pessoas – eram 2 em 1950 (Nova Iorque e Tóquio); 3 em 1975 (mais Cidade do México); 21 em 2011; e  serão 27 em 2025, rumando para a Ásia e África.

A demografia, a crescente demanda por recursos e serviços naturais, a globalização e o aquecimento global formam as quatro grandes forças globais, potencialmente interligadas, que irão determinar o futuro da “empresa Terra”. Essas forças são influenciadas diretamente pela tecnologia, cujos fantásticos avanços permitem melhor qualidade de vida, pena que ainda para uma abastada minoria. Atualmente a pobreza assola 67 % da população mundial.

Um administrador será competente se conseguir permitir o usufruto de renda, saúde, educação, segurança e lazer de qualidade para todos esses 7 bilhões de terráqueos. Enfim, universalizar o bem-estar para seu maior patrimônio, o ser humano.

A distribuição de ativos no século XX ocorria por meio de transações com terras, já no século XXI se dará por meio do conhecimento, o qual pode ser adquirido e distribuído de forma mais equânime, sem expropriá-lo de ninguém. A geração de valor ocorrerá, portanto, por meio de ideias - a imaginação humana é infinita e um planeta mais lotado aumenta a probabilidade de surgirem ideias originais.

A demografia

Há muitas projeções científicas do futuro demográfico, um exercício de difícil prognóstico por lidar com diversidade de culturas, etnias, religião, poder aquisitivo, educação e saúde. Eventos cataclísmicos potenciais como um asteróide colidindo com a Terra, ou surtos de doenças infecciosas como ocorreu com a peste bubônica, que em 1350 reduziu a população da Europa em 20 %, podem também alterar substancialmente os mais complexos estudos estatísticos.

Na demografia a questão crucial é responder qual o tamanho limite de pessoas que o planeta pode comportar de forma a não colocar em risco o bem-estar de seus habitantes e ecossistemas. Todos os prognósticos catastrofistas de uma bomba populacional dos profetas do caos até agora não se confirmaram, desde Malthus em 1798 até Paul Ehrlich em 1966, basicamente pela inventividade humana que, sob pressão máxima, encontra saídas criativas.

A Terra já experimentou cinco grandes extinções em massa e a vida teimou em voltar. O tom alarmista do crescimento populacional esvaziou-se e a corrente panglossiana tem superado de longe as cassandras de plantão. Mas não há nenhuma garantia que esse cenário persista ad eternum.

Desequilíbrios são fundamentais para a humanidade. Se tudo funciona perfeitamente chega-se a um ponto de estagnação, a zona de conforto, onde nada de novo se cria. Dessa forma, um pouco de imperfeição e caos faz bem para emergir a capacidade criativa humana.

A população mundial é deveras heterogênea em relação a ocupação territorial e taxas de crescimento. Cerca de 60%  vivem na Ásia; na China e na Índia juntas, há mais de 2,5 bilhões de pessoas; na África somente 15%; e  25 % no resto do mundo (Américas, Oceania e Europa). Segundo a ONU, um quinto da população mundial ainda vive em países com alta fertilidade. É nesses países, em sua maioria situados na África e Ásia, que a população mais cresce e mais vai crescer.  No ano de 2050, a cada 100 nascimentos 57 ocorrerão na Ásia e 22 na África.

As taxas de fertilidade globais declinaram de forma consistente nos últimos cem anos, passando de 6 filhos por família em 1900 para 5 filhos em 1950 e 2,5 atualmente. A ONU projeta que as variações populacionais ficarão contidas em taxas de fertilidade de 1,5 a 2,5 filhos por casal, tendendo a convergir para o nível de reposição populacional que é de 2,1 filhos por casal.

Países como Alemanha, Japão, Itália, Espanha, Rússia, e Coréia do Sul estão aquém da variante baixa (1,5 filhos por casal), e suas populações decrescem. Metade da população mundial mora em países onde as pessoas têm menos filhos do que a necessidade de reposição. Alguns países já oferecem até bônus por nascimentos como a Itália, ou incentivam a migração como o Canadá.

Outros países como a China, desde a década de 1970, proíbem mais de um filho por casal. Um número menor de crianças permite aumentar o gasto per capita na infância. Em compensação no Níger, país africano, a taxa de fertilidade é de 7,3 bebês por mulher, um disparate. O continente africano já teve taxas de 8 filhos por mulher, hoje 4,6.

Antes que alguns países pobres desenvolvam-se a ponto de igualar o nível de envelhecimento populacional de nações ricas, haverá uma proporção alta de adultos em idade ativa para um número ainda relativamente baixo de crianças e idosos. É o que alguns demográficos chamam de bônus demográfico, fase em que a estrutura populacional é favorável ao crescimento econômico, mas que tem prazo para acabar. O Brasil está justamente nesse momento que deve ir até 2020, qual seja, mais que nunca é época de enriquecer.

O Brasil, que em 1960 registrava a média de 6 filhos por mulher, iniciou o milênio com uma fecundidade de 2,4.  Pesquisas anuais indicam que o país já está abaixo do nível de reposição populacional, com uma taxa entre 1,8 e 1,9. A intensidade da queda surpreendeu até especialistas e obrigou o IBGE, instituto responsável pelas estatísticas oficiais, a refazer suas projeções, antecipando de 2062 para 2040 a estimativa sobre o ano em que a população começará a diminuir.

A fecundidade começa uma curva declinante quando mulheres têm mais acesso ao mercado de trabalho, a métodos contraceptivos e de planejamento familiar. Também cai quando as populações se tornem mais urbanas e próximas a tratamentos de saúde e sistemas educacionais. Há milhões de meninas e rapazes no mundo em desenvolvimento que têm pouco acesso à educação sexual e às informações sobre como evitar uma gravidez ou se proteger do HIV. Nos lugares onde o status das mulheres é inferior, a taxa de natalidade é alta e a sobrevivência das crianças baixa.

Urbanização acelerada, aumento da escolaridade feminina, melhor acesso a métodos contraceptivos e, em menor grau, a influência de telenovelas e programas de radio, ao divulgarem padrões de vida urbanos dos grandes centros, estão entre as causas apontadas por estudiosos para explicar a progressiva queda na fecundidade. Este movimento, antes restrito às mulheres de maior renda em grandes cidades, espalha-se pelo mundo.

Nas sociedades rurais quanto mais filhos melhor para auxiliar os pais na renda e trabalho e sustentá-los na velhice.  Já nas sociedades urbanas baseadas na educação como ferramenta de ascensão social, não há tanta pressão pela procriação, pois na velhice há maior cobertura dos sistemas de seguridade social.

Com o avanço da medicina, houve um incremento substancial na expectativa de vida do ser humano. Atualmente em cada 9 pessoas uma tem mais de 60 anos, e em 2050 esta relação será de uma para cada cinco pessoas. Enquanto no Reino Unido, o número de pessoas com mais de 85 anos dobrou entre 1985 e 2010, o percentual de pessoas com menos de 16 anos caiu de 21% para 19% no mesmo período. População estabilizada ou em declínio significa menor pressão sobre o meio ambiente, por outro lado há menos trabalhadores jovens para sustentar um contingente cada vez maior de idosos.

O temor de explosão populacional, aos poucos, dá lugar então a outras angústias. A queda acelerada da fecundidade e o aumento da expectativa de vida põem em xeque sistemas de aposentadoria. Haverá cada vez menos gente jovem produzindo e a maioria dos países não tem preparo suficiente para cuidar dos idosos, que dependerão de serviços públicos eficientes para viver com qualidade.

Conclusão

Controlar o direito reprodutivo por meio de políticas populacionais, como faz a China, vai contra os direitos individuais. Mas o problema principal não é o montante de pessoas que habita o planeta e sim se todos atingirem, em curto espaço de tempo, o padrão de consumo dos países ricos. O desafio é encontrar o desenvolvimento sustentável para a população já contratada, definida, qual seja, mais 2 bilhões de pessoas até 2045.

Deve-se aprender com a natureza e adaptar-se a ela. Especialistas em geral estão de acordo com a necessidade urgente de uma mudança de valores e que deve-se enfrentar as desigualdades sociais com inovação tecnológica e limites de consumo. Especificamente, que a prosperidade de um país seja medida não por seu PIB, mas por sua capacidade em satisfazer as necessidades básicas humanas e por quão bem seus habitantes conseguem tratar o meio ambiente.

A riqueza mundial ainda está muito concentrada em um número pequeno de países desenvolvidos, mas mesmo esses países têm suas desigualdades. Uma das mais gritantes está nos seios das próprias empresas: nos anos 1950 um operário de chão de fábrica ganhava 40 vezes menos que o presidente da companhia; atualmente ganham 1000 vezes menos. Isto ressalta o lado predatório do sistema capitalista que incentiva a economia do descarte, por meio da cultura do desperdício.

Ter consciência da gravidade da desigualdade social e da degradação ambiental que se esparrama por todos os cantos do planeta faz realçar a importância de decisões políticas para repensar a sociedade do amanhã. Traz para a mesa de discussão quais os limites a impor; qual o nível de ética e equidade deve ser considerado dentro das organizações e dos negócios; qual o nível de desigualdade é aceitável dentro de um cenário de desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável.

Vive-se uma mudança de paradigmas e grassam ações de proteção ambiental mundo afora. São soluções na área econômica e tecnológica, desenvolvimento de energias renováveis e limpas (biomassa, eólica, solar, das marés, geotérmica); na área política, restrições legais punitivas a poluição, resíduos, desflorestamento e incentivos a atividades sustentáveis; na área organizacional, produtos e serviços verdes; na área social, engajamento via redes sociais e organizações não governamentais em busca de transparência e justiça social; na área educacional, forte conscientização da finitude dos recursos e serviços naturais.

Resta saber se surgirão as soluções, se haverá líderes com coragem e persistência para implantá-las e se elas serão suficientes no tempo necessário. Portanto, a atual geração tem conhecimento e informação mais que suficiente para responder o quanto está disposta a se sacrificar para deixar um mundo melhor para as futuras gerações.

A imensa maioria dos mandatários tem seu foco para o horizonte curto da próxima eleição e as decisões políticas de ações de acesso a alimentos, água, educação e das consequências do aquecimento global devem enxergar macro horizontes de 20,30, 50 anos. Cumpriu-se um preceito bíblico, a “empresa Terra” foi tomada, mas está plana, lotada, quente e desigual. E agora, qual a nova ordem?