E Agora, Jose?

E AGORA JOSE?

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“Memórias de um desesperado na busca por respeito aos seus Direitos”.

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Jose havia acabado de completar sessenta anos, enfim havia acabado de alcançar a terceira idade, estava a padecer de diabetes e pressão alta.

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Alguns dias após alcançar a terceira idade, fora acometido de fortes dores abdominal, aconselhado por amigos resolveu tomar chá de carqueja, sem que cessassem as dores, o jeito foi baixar no hospital público.

Lá chegando e, a fim de ser atendido o mais rapidamente possível, se abrigou no estatuto do idoso, na triagem foi examinado por pessoal de enfermagem, lhe mediram a pressão, verificaram a taxa de açúcar no sangue e, apesar de não poderem apontar as causas das fortes dores que o acometiam, resolveram quer seu caso não merecia medidas de urgência.

Jose argumentou ser idoso, que as dores o incomodavam muito, o atendente (enfermeiro) disse-lhe que o acesso ao atendimento medica prioritário era efetuado através de consulta preliminar, tudo sujeito a avaliação clinica.

Foi ai que o          Enfermeiro resolveu apresentar a Jose o Protocolo de Manchester, Jose em meio a dores sequer conseguia entender, confuso sabia que o que aquele homem lhe falava tinha algo a ver com Chester, a ave muito consumida no Natal, depois de muita explicação entendeu Jose que não era Chester e sim Protocolo de Manchester o procedimento adotado por aquele estabelecimento Hospitalar.

Jose argumentou que o Estatuto do Idoso é Lei Federal, que todos devem obediência a Lei, que ninguém esta acima da Lei nem o tal Protocolo de Manchester, tudo em vão, colocaram uma etiqueta de cor verde em sua blusa e, toca Jose para a sala de espera.

Aos quase quatro horas sentado embaixo da saída de ar condicionado a esperar, as articulações de Jose já não obedeciam ao comando de seu cérebro, sua nádegas doíam, suas costas pesavam, diante de tantas mazelas Jose começa a se sentir o próprio Chester.

Retorna a enfermagem e fala, “sou diabético e preciso me alimentar de três em três horas, já estou há quase quatro horas, o Senhor não poderia abreviar o atendimento” o Enfermeiro que lhe diz que se fizer alteração em seu prontuário só vai atrasar mais, Jose finge que concorda, sai em direção à sala de espera, porem se desvia no meio do caminho e volta para casa, satisfeito em poder encarar mais uma dose de carqueja no conforto de seu lar.

Achando que o atendimento hospitalar fora um caso isolado, resolveu ir até um Banco estatal, com o fim de retirar seu novo cartão vinte e quatro horas, pois se encontrava impedido de movimentar sua conta nos terminais.

Pois bem lá chegando Jose se deparou com uma enorme fila única, no teto daquela Agencia Bancaria presa por correntes encontrava-se uma placa bastante visível informando que Idosos, Gestantes, Portadores de necessidades Especiais tinham direito a atendimento prioritário.

De nada lhe valeu procurar o Atendente daquela Agencia, sua condição de idoso não fora o argumento forte bastante para lhe possibilitar a acolhida de sua pretensão, em defesa do Banco argumentou aquele funcionário que era dia de pagamento de Pensionista do INSS e de Funcionário Público, por isso a fila era única.

Apesar de esbravejar, e subir seu tom de voz, Jose teve que encarar a fila em pé de igualdade com os jovens que ali estavam a sua frente.

De outra feita, num sábado a tarde, após reunir a família resolveu Jose ir ate o Shooping, após dar voltas e voltas à procura de vaga no estacionamento, lembrou-se que ali havia um bolsão fechado destinado a atender idosos, gestantes e demais portadores de necessidades especiais, ali chegando, foi parado na cancela de acesso, um Segurança lhe perguntou, o que o Senhor deseja, falou Jose “sou idoso desejo estacionar” quantos anos o Senhor tem, pois aqui é só para maior de sessenta e cinco anos, Jose saiu vermelho de raiva e indignação, passou a rodar e rodar até conseguir uma vaga e estacionar seu carro.

Por conta da Hipertensão e Diabete, Jose é submetido a tratamento medico ambulatorial na UBS de seu bairro que conta também com atendimento odontológico, após cair à obturação de seu dente, resolve buscar tratamento odontológico, ai começa sua dorrrrrrrrrrrrr.

A atendente lhe informa que primeiro precisa fazer parte de um grupo de escovação, após receber estas aulas, é verificado se esta em um grupo de risco e após verificam se esta enquadrado no padrão de prioridades onde a renda familiar e as condições socioeconômica será determinante.

Jose mais uma vez sai desgostos, e fala para sua esposa que para ter acesso a tratamento odontológico terá que estar na mais completa condição de miserabilidade.

Passa cerca de três meses, e Jose resolve voltar, seu dente começa a incomodar, o buraco que a obturação escondia esta a mostra, parece uma panela.

De volta a UBS, Jose bate o pé, quer porque quer ser atendido, então resolvem marcar um consulta, porem, antes da data da consulta ele recebe uma visita em sua casa, a visitante uma auxiliar da Dentista, tenta demove-lo da consulta, deitando um balde de água fria em sua pretensão, argumenta que a UBS é carente de profissionais na área de Odontologia, que só tem uma Dentista, que o público que necessitam de atendimento é muito grande, por isso é impossível dar conta da demanda, Jose permanece irredutível, não abre mão de seu direito.

Enfim o grande dia, no consultório, após a aula de escovação, a Dentista inicia o sermão, diz para Jose que ele não é atendimento prioritário, que não faz parte de grupo de risco, que se incluído, por certo estará a furar a fila, fato que ira prejudicar outras famílias.

Jose já cansado da mesma ladainha, bate o pé, e sem alternativa a Dentista concorda em atendê-lo, porem não antes de trinta dias, Jose resolve ironizar, e retruca “o que farei com o meu dente acaso venha infeccionar e, me sobrevenha dores, devo chamá-lo para uma conversa amigável e, lhe expor que a dor que esta a me afligir, vai ocasionar um enorme transtorno, que as famílias carentes serão prejudicadas, que ele o (dente) deve ser paciente e, esperar um pouco mais, até a ONG que administra a UBS contratar mais Dentista, ou a Sra. acha que devo dar meia volta e somente aqui voltar quando estiver banguelo”.

Mais uma vez, de nada adiantou, Jose sofreu na carne, mais parou de sonhar e acreditar em Papai Noel e tantas outras coisas.

DE MELHOR IDADE para Jose restou somente a lembrança de quando estava em sua melhor forma física, gozando de plena saúde, podendo comer o que bem entendesse sem a espada da diabete e pressão alta, sem os horrores da dieta, sem a intolerância dos mais jovens.

PARA A MELHOR IDADE que Jose alcançou lhe é reservado o Protocolo de Manchester nos Hospitais, as filas nos Bancos, a insolência dos mais Jovens, o desrespeito e indolência com que lhe tratam, as casas de repouso e, o caixão, com poucas pessoas no velório, pois idoso é chamado de pé na cova, todos estão esperando que empacote logo, ninguém vai perder tempo com velório.

Redigido por: Mauricio Cleudir Sampaio – Advogado militante - Jornalista.

Andréa Silva Sampaio