ENGENHARIA E ANÁLISE DE VALOR
Afonso César Guedes
Daniel Alves Pezi
Talles Tavares
Resumo: Esse trabalho tem apresenta uma breve revisão sobre a Engenharia e Análise de Valor, bem como a diferenças entre as duas técnicas. Apresentando um dos modelos utilizados para realização da análise de valor como exemplo didático na análise de um lápis.
Palavras-chave: Engenharia de Valor, Análise de Valor, Valor.
1. Introdução
A capacidade de inovação torna-se fator vital para as empresas, nesta era de competição de mercado que atinge todas as regiões do mundo, exterminando as organizações mais fracas. A inovação, entretanto, não se dá apenas pelo desenvolvimento de novos bens e serviços. É necessário que estes sejam aceitos e incorporados no mercado para que venham a se concretizar como inovações. Com isto a Análise do Valor é uma técnica utilizada com grande sucesso para otimização de projetos, redução de custos, inovação e racionalização de produtos, serviços e sistemas.
A análise do valor (AV) é uma metodologia criada por Lawrence A. Miles, da General Electric, USA, em 1947, para fazer frente à escassez de matérias-primas ocasionada pela II Guerra Mundial. Os objetivos principais naquela ocasião eram descobrir materiais alternativos, visando à redução de custo sem comprometer a qualidade do produto.
2. Conceitos básicos de análise do valor
Segundo A AV teve seu conceito ampliado em relação à sua concepção original, que era voltada essencialmente para produtos. Hoje a AV “é um conjunto sistematizado de esforços e métodos destinados a reduzir o custo total de um produto, processo ou serviço, mantendo ou melhorando sua qualidade” (Possamai, 1997, p.11) ou conforme Abreu (1996, p.19) “a Análise de Valor é uma técnica de redução de custos, que dá ênfase às funções e características dos recursos de que dispomos e consumimos na realização das atividades”.
Nota-se pelos conceitos apresentados, que a AV pode ser aplicada para produtos, processos ou serviços. Deve ser ressaltado também do conceito de Abreu (1996), a ênfase nas funções e características dos recursos consumidos na realização de atividades. “Recurso significa tudo aquilo que está disponível em uma organização, para realização de suas atividades” (Abreu, 1997, p.16).
Desta forma os recursos podem ser materiais, humanos, financeiros, tecnológicos, organizacionais etc.
A AV tem se constituído em uma técnica bastante útil no combate ao desperdício, que significa consumir um recurso além do estritamente necessário para a satisfação do cliente.
Os conceitos de valor e função, dentro do enfoque da AV, são fundamentais para compreensão da técnica. Valor “significa o mínimo a ser gasto para adquirir um produto com o uso, a estima e a qualidade requerida” (Possamai, 1997, p.12). Já função é a atividade desempenhada por um produto, sistema ou serviço que visa atender às necessidades do usuário.
A função deve ser caracterizada por um verbo ativo e um substantivo, por exemplo:
Produto/Serviço | Função |
Lápis | Fazer marcas |
Relógio | Marcar horas |
Retirar chapas do almoxarifado | Obter material |
Estampar blanks | Dar forma |
Pode-se representar valor como função/custo. O cliente está interessado nas funções do recurso (produto, serviço, processo, atividade etc.); quanto melhor as funções forem desempenhadas ao menor custo, maior será o valor. Assim sendo, todas aquelas funções que o produto/serviço apresentar, que não atendam às necessidades do usuário, devem ser eliminadas, já que não lhe dão maior valor, apenas agregam custo.
Diagrama de Mudge, que é uma técnica de uso comum na AV.
CÓDIGO DA ATIVIDADE/
FUNÇÃO |
DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE | FUNÇÃO | N/D | SEÇÃO | CUSTO * (R$) |
A | Transportar matéria-prima do almoxarifado para a seção 01. | Transportar material | D | - | 2,00 |
B | Estocar próximo à máquina até que possa ser processada (máquina ocupada). | Aguardar operação | D | 01 | 1,00 |
C | Furar peça. | Dar forma | N | 01 | 3,00 |
D | Estocar peça usinada até completar lote. | Formar lote | D | 01 | 1,00 |
E | Transportar para seção 02. | Transportar material | D | - | 1,50 |
F | Estocar próximo à máquina até que possa ser processada (máquina ocupada). | Aguardar operação | D | 02 | 1,00 |
G | Tornear peça | Dar forma | N | 02 | 3,00 |
H | Estocar próximo à máquina até formação do lote. | Formar lote | D | 02 | 1,00 |
I | Transportar para a seção 03. | Transportar material | D | - | 1,00 |
J | Estocar próximo à máquina até que possa ser processada. | Aguardar operação | D | 03 | 1,00 |
L | Fresar. | Dar forma | N | 03 | 3,00 |
M | Estocar próximo à máquina até formação do lote. | Formar lote | D | 03 | 1,00 |
3. Justificativa
A AV é uma técnica que foi desenvolvida nos idos da década de 40, tendo sido uma das principais causas do grande crescimento experimentado pela General Electric Company naquela e na década seguinte.
A partir de 1960, varias empresas, dentro e fora dos Estados Unidos, inclusive no Brasil, passaram a usar a AV.
A partir do final dos anos 70, a AV passou para um segundo plano sendo, praticamente, abandonada pela maioria das empresas. Entretanto, muitos dos seus princípios, ainda hoje, são revolucionários, principalmente quando aplicados para a resolução de problemas, pela sua didática e pela forma como ela consegue despertar a criatividade nas pessoas que participam das equipes de trabalho.
4. O que é análise de valor?
4.1 Definição
A AV é um método utilizado para identificar e remover problemas detectados na fabricação de um produto, na execução de um serviço ou no funcionamento de um sistema.
Usando a criatividade como instrumento básico, a AV procura, por meio da mudança de processos, projetos, métodos, conceitos ou, até mesmo comportamentos, resolver problemas, sem eliminar as funções ou diminuir a qualidade do produto.
O que caracteriza a AV é a maneira pela qual ela aborda o problema, que difere totalmente dos métodos convencionais. A preocupação dominante da AV é com a função do produto, procurando identificar e otimizar as chamadas funções principais, secundárias e desnecessárias, visando eliminar o que for supérfluo e desnecessário, conseqüentemente aumentando o valor do produto.
Assim, a principal diferença entre AV e as técnicas convencionais de resolução de problemas é que a AV investiga o porquê e o para que de cada coisa, identificando e analisando as funções do produto. Já os processos convencionais procuram fazer esta investigação examinando independentemente os insumos empregados para a fabricação do produto ou execução do serviço, muitas vezes criando novos e até maiores problemas dos que os eliminados.
A AV pode ser usada em todas as etapas de fabricação de um produto, da execução de um serviço ou desenvolvimento de um sistema.
Quando a AV é aplicada durante a fase de projeto ela recebe a designação de “Engenharia do Valor”. É evidente que os melhores resultados serão obtidos quando a aplicação da AV começa na fase de criação, antes que os investimentos de implantação sejam efetuados, pois é muito mais barato modificar desenhos ou formulários do que peças, ferramentas, equipamentos, etc.
Conceitualmente, Csillag (1995) estabelece a AV como um processo sistemático que prove um conjunto de técnicas que identificam as funções necessárias de um produto, estabelece valores para estas funções e desenvolvem alternativas para desempenhá-las ao mínimo custo.
No sentido de esclarecer seu conceito abstrato e genérico, SAVE (2007) propõe a seguinte equação para definir valor:
Valor = Função / Custo = (Performance)
Nesta equação, a função é medida através dos requisitos de performance dos clientes,
4.2 Análise
Análise é a decomposição de um todo em partes, com o intuito de proceder a um exame minucioso de cada uma dessas partes. No caso específico da AV, os produtos são decompostos em funções, com o objetivo de examinar o valor de cada uma dessas funções.
4.3 Valor
No contexto da AV, pode–se entender valor como a qualidade de algo que atende uma necessidade ou desejo do cliente. Em outras palavras, valor é o atributo através do qual um produto justifica a sua aquisição, posse ou uso pelo cliente.
Este valor pode ser inerente às propriedades de uso do objeto, denominado valor de uso ou valor objetivo, ou pode, também, ser decorrência da capacidade do objeto atender a exigências tais como: bom-gosto, conforto e prestígio. Nesse caso, é denominado valor subjetivo ou valor de estima.
No âmbito da AV, enfoca–se o valor tanto do ponto de vista de quem fabrica o produto, quanto do ponto de vista de quem adquire ou usa o produto.
Para quem produz, o valor é função do custo total para produzir e vender, bem como do lucro que é possível obter-se. Do ponto de vista do cliente o valor é a combinação subjetiva do preço pago e preço de revenda, das funções que o produto irá exercer, da qualidade (desempenho, acabamento, estética, durabilidade, confiabilidade e assistência técnica), da disponibilidade de produtos semelhantes no mercado, do prazo de entrega e de aspectos relacionados à facilidade de manuseio, segurança e meio ambiente.
4.4 Função
A função, um dos conceitos mais importantes em AV, é definida como sendo uma atividade executada por determinado produto, para satisfazer determinada necessidade do cliente.
Todo produto possui uma ou mais funções, as quais procuram satisfazer as necessidades objetivas e subjetivas do cliente. Nem sempre estas funções são evidentes e de total conhecimento de quem fabrica o produto.
As funções de um produto são perfeitamente caracterizadas quando é possível descrevê-las através da associação de um verbo (exceto os de ligação) e um substantivo, são elas: básica ou secundaria, onde a função básica apresenta a principal finalidade de um produto e a secundaria a que auxilia o desempenho da função básica.
5. Plano de Trabalho
Miles criou o plano de trabalho para servir como instrumento sistemático da metodologia. Mesmo considerando sua flexibilidade e que este plano tenha sido modificado por outros pesquisadores e possa sofrer adequação em suas etapas, que podem ser repetidas ou alteradas, conforme as circunstâncias temporais e locais, o referido plano veio tornar o uso prático da metodologia mais acessível.
Pereira Filho (1994), faz uma explanação bastante abrangente de cada etapa e cada passo a ser seguido, clareando as dúvidas e eliminando as dificuldades que por ventura surjam. A tabela 1 mostra de maneira organizada o plano de trabalho idealizado por Miles.
. ETAPAS | FINALIDADE | PASSOS |
1. FASE DE PREPARAÇÃO | Medidas preparatórias | 1.1 Escolher o objeto de estudo
1.2 Determinar o objetivo 1.3 Compor o grupo de trabalho 1.4 Planejar as atividades |
2. FASE DE INFORMAÇÃO | Conhecer a situação atual | 2.1 Obter as informações
2.2 Obter os custos 2.3 Descrever as funções |
3. FASE DE ANÁLISE | Examinar a situação atual | 3.1 Analisar as funções
3.2 Determinar funções críticas 3.3 Enunciar problemas |
4. FASE DE CRIATIVIDADE | Obter idéias | 4.1 Obter idéias
4.2 Agrupar idéias |
5. FASE DE DESENVOLVIMENTO | Formular proposições | 5.1 Formular e desenvolver alternativas
5.2 Viabilizar tecnicamente 5.3 Viabilizar economicamente 5.4 Decidir |
6. FASE DE IMPLANTAÇÃO | Apresentar e implantar a solução proposta | 6.1 Apresentar a proposta
6.2 Planejar a implantação 6.3 Implantar a alternativa 6.4 Acompanhar a implantação |
Tabela 1 - Plano de Trabalho de Miles, Fonte: Pereira Filho (1994)
5.1 Fase de Preparação
Esta fase constitui-se de quatro passos básicos conforme foi mostrado na tabela 1, o primeiro passo é a definição ou seleção do objeto a ser estudado. Para a escolha do item a ser submetido à análise, pode-se partir de: uma exigência legal, da sugestão de uma auditoria, da posição competitiva do produto, da dependência de materiais escassos, da redução de custos, entre outros fatores. A importância da definição do objeto a ser estudado encontra-se no fato de que dele dependerá desde já o direcionamento do trabalho e dos resultados;
O segundo passo é a determinação do objetivo, que levará os resultados a uma ordem econômica ou técnica, ou ambas, conforme a necessidade que originou o trabalho;
No terceiro passo, que é a formação do grupo de trabalho, tem-se a constatação da multidisciplinaridade trabalhada pela metodologia (equipe formada por pessoas das diversas áreas da organização, onde cada membro traz para o grupo a visão do objeto a ser analisado conforme a construção dos seus conhecimentos). O grupo pode ser constituído através de convite ou indicação das pessoas envolvidas ou interessadas no assunto;
No quarto passo, que diz respeito ao planejamento das atividades, etapas como levantamento da bibliografia de pesquisas efetuadas no setor escolhido para estudo; elaboração de questionário e visitas programadas a fábrica para observações locais e entrevistas, contribuem para o desenvolvimento do trabalho e das demais fases.
5.2 Fase da Informação
Nesta fase, busca-se colher e registrar dados e informações a respeito do objeto em estudo, o que pode ser feito através de um levantamento de dados nos setores competentes da empresa. Quando não for possível, os dados podem ser obtidos através de entrevistas, questionários e visitas aos locais que se utilizam do processo.
Para a obtenção dos custos o grupo de trabalho pode envolver o departamento responsável pelas finanças/contabilidade. Assim, devem ser mantidos os devidos cuidados, de maneira que os dados sejam os mais fidedignos possíveis.
Descrever as funções também é outro passo importante desta fase, como citado no capitulo anterior. Desta maneira, poder-se-á ter uma visão macro do objeto de estudo para uma análise, assim como a identificação dos pontos críticos do projeto ou processo.
Todas as informações levantadas nesta etapa deverão estar disponíveis para o início de trabalho da próxima etapa.
Esta fase é considerada por muitos analistas a mais importante do programa, pois falhas na obtenção de boas informações ou bons fundamentos sobre os fatos podem prejudicar o projeto. Não se pode esquecer que um problema bem definido está cinqüenta por cento resolvidos.
5.3 Fase da Análise
Com o auxílio do grupo de trabalho (formado na fase anterior) e de ferramentas como fluxogramas, coletas de informações e diagrama FAST é que se definem os problemas que devem ser analisados e avaliados para uma orientação dos resultados.
Neste estágio, a avaliação poderá ser objetiva e direta ou subjetiva em alguns dos casos. Assim, esta etapa do método tem por função atualizar os conhecimentos da equipe, identificar a real atividade consumidora de recursos e unidade de custos, além de identificar as falhas e deficiências do processo.
Todo o método assenta no conceito de função. Ao caracterizar um produto pelas funções que ele desempenha procuramos representar o que é que o produto faz e não aquilo que é. Queremos saber para que serve, como responde às necessidades do utilizador.
A função é o efeito ou ação de um produto que responde a uma necessidade. Assim, a necessidade é expressa, independentemente de soluções, deixando em aberto o campo da inovação e são classificadas em básica e secundarias onde devemos também identificar as funções desnecessárias e avaliar o nível de evolução do produto.
5.3.1 Descrever funções
A descrição de funções deve ser feita, na Tabela 2, conforme as regras:
Regra 1: Toda e qualquer função deve ser descrita através de um VERBO e um SUBSTANTIVO
Regra 2: As funções de uso (trabalhar) e as de estima (vender) usam diferentes tipos de verbos e substantivos.
a) As funções “trabalhar” são sempre expressas por verbos de ação e substantivos mensuráveis que indicam valores quantitativos.
b) As funções “vender” são sempre expressas por verbos passivos e substantivos não mensuráveis que indicam valores qualitativos.
FUNÇÃO DE USO = Verbo ativo + Substantivo não mensurável
FUNÇÃO DE ESTIMA = Verbo passivo + Substantivo não mensurável
Observações:
a) Verbo ativo é o que exprime uma ação
b) Verbo passivo é o que exprime um estado
c) Evitar os verbos SER, ESTAR, TER, HAVER, pois estes verbos indicam muito pouco função e mais propriedade.
Regra 3: Todas as funções devem ser classificadas em dois níveis de importância: BASICA e SECUNDARIA
a) Função Básica: Apresenta a principal finalidade de um produto, é o motivo de sua existência
b) Função Secundaria: É a que auxilia o desempenho técnico da função básica, pode ser também resultante de um conceito especifico de projeto, ou é uma função que melhora a venda do produto.
Tabela 2 – Descrição das Funções - Fonte Engenharia e Análise do Valor, IMAM
5.3.2 Determinar nível de importância da função
Inicia-se o preenchimento do formulário, ver Tabela 3, relacionando a função A “Fornecer Energia” com a função B “Manter Padrão” e determinando-se qual a mais importante. A letra-chave da função escolhida como a mais importante, no caso B “Manter Padrão”, é colocada no quadrículo superior esquerdo do segmento inferior do formulário (avaliação numérica). Ao lado da letra escolhida é anotado o grau de importância da função escolhida.
O grau de importância das funções é expresso pelos fatores de peso 1, 2 ou 3, onde :
Peso 1 = menor diferença em importância
Peso 2 = média diferença em importância
Peso 3 = máxima diferença em importância
Esses fatores de peso quantitativos são baseados no tempo de duração e dificuldade de se conseguir um consenso entre os componentes do grupo multidisciplinar, para decidir qual função é mais importante. Se a decisão for imediata e praticamente sem discussão, o fator de peso “3” é colocado no quadrículo de avaliação numérica junto à letra escolhida. Se o período de tempo utilizado for um pouco maior que o imediato ou se houver alguma discussão, o fator de peso é “2”. Se houver muita demora e discussão para se determinar a função mais importante, a que prevalecer terá fator de peso “1”.
Após a função “A” ter sido comparada e avaliada com a função “B” e a letra-chave da função mais importante e o seu fator de peso anotados no quadrículo, repete-se o procedimento para a comparação da função “A” com as demais funções, “C”, “D”, “E”, etc. A seguir, na linha de baixo, compara-se a função “B”, com as funções “C”, “D”, “E”, etc. Na outra linha compara-se a função “C” com as funções, “D”, “E”, “F”, etc.
A avaliação numérica da função é obtida através da soma dos fatores de peso anotados ao lado da respectiva letra-chave de cada função, colocando-se o resultado na coluna de Peso Total, na linha correspondente à função que está sendo avaliada.
Os respectivos pesos de cada função são então transportados para a coluna “Peso da Função” no segmento superior do formulário “Sumário da Avaliação". Cada função então terá sua importância relativa calculada, relacionando-se proporcionalmente o peso de cada função ao total dos pesos de todas as funções avaliadas.
Após a comparação dos valores da coluna “Importância Relativa”, a função básica do produto será rapidamente determinada, ou seja, é a que possui o maior percentual. Este procedimento possibilita estabelecer uma ordem decrescente de importância entre as funções do produto, ficando claramente identificadas além da função básica, as funções de importância secundária, as idéias preconcebidas e às vezes até as funções desnecessárias.
Tabela 3 – Avaliação da Função – Fonte Engenharia e Análise do Valor, IMAM
5.3.3 Determinar nível de evolução
Nesta etapa, formulamos as perguntas sobre as funções do produto “Quem ele é e o que ele faz, a isto chamamos “Nível ZERO de evolução” (abstração). Este questionamento é um momento importante no projeto, pois nos levará a uma decisão.
Ao elevarmos o nível de abstração passamos a pergunta “PORQUE”, e assim vamos repeti-la ate nos sentirmos satisfeitos com as respostas. (caminhar a esquerda da função básica)
Se fizermos a pergunta “COMO” diminuiremos o nível de abstração que chamamos de regressão a origem do produto, ou melhor, da função básica. (caminhar a direita da função básica).
Se prestarmos atenção no surgimento de novos produtos, observamos que todos eles, consciente ou inconscientemente passaram por este questionamento.
5.3.4 Determinar o valor de uso da função
Para determinarmos o Valor Uso da Função, devemos seguir os passos a seguir:
a) Definir claramente a função;
b) Estabelecer as especificações e requisitos;
c) Desenvolver alternativas (produtos disponíveis que cumprem a mesma função);
d) Determinar o custo das alternativas;
e) Comparar as alternativas.
O Valor Uso será dado pela alternativa de menor custo, caso a função não venha acompanhada de especificações e requisitos o Valor de Uso dela será o da própria função e caso exista especificações e requisitos deveram atendê-los observando as condições a seguir:
- façam o produto trabalhar
À medida que acrescentarmos especificações e requisitos com as características acima podemos alterar para mais o Valor de Uso da Função.
5.3.5 Formar custo das funções
Para a EAV a formação do custo de um produto é feita sob um ângulo totalmente diferente onde são considerados os custos da Função Básica, Funções Secundarias e Funções desnecessárias, pois a EAV enfoca nas funções do produto o que representa sua diferenciação da abordagem convencional, nada mais coerente do que formar o custo do produto levando-se em consideração as funções desempenhadas por ele. Uma das maneiras de se fazer isso é utilizando do diagrama FAST, Figura 1. Preenchendo as tabelas de Percentual de Valor e Formação de Custo, Tabela 4 e Tabela 5.
Figura1 – Diagrama FAST
A próxima etapa consiste em levantar os percentuais de valor para cada peça bem como se a mesma é uma componente ou uma função.
Tabela 4 – Percentual de Valor – Fonte Engenharia e Análise do Valor, IMAM
Após levantarmos os percentuais de valor para cada parte do produto. Vamos realizar a formação do custo, Tabela 5
Tabela 5 – Formação do Custo da Função – Fonte Engenharia e Análise do Valor, IMAM
5.3.6 Determinar índice de valor
Avaliar economicamente uma função significa determinar o seu Valor de USO, que é a menor quantidade de dinheiro necessária para que o produto apresente o uso que dele se espera.
A maior importância desta função é servir de referencia para que possamos dizer se uma função esta bem ou mal dimensionada economicamente.
Iv = Valor real da função (custo)
Valor de uso da função (custo)
5.3.7 Construir diagrama vetorial
Para construirmos este diagrama precisamos conhecer o nível de importância das funções (peso) e também os seus custos. Esta ferramenta pode facilitar a visão das funções criticas dentro do produto. Calculam-se as tangentes [Fr/Cr] e as resultantes [(Fr²+Cr²)½] para cada função, e monta-se o gráfico vetorial, ver Tabela 6. Depois classificam-se as resultantes de acordo com a regra abaixo, aonde “n” é o número de funções.
Baixa | U<1/n |
Média | 1/n<U<3/n |
Alta | U>3/n |
Após isso devemos analisar conjuntamente a resultante e a tangente, seguindo a regra abaixo.
Tangentes | ||||
=1 | >1 | <1 | ||
Resultantes | Alta | Regular | OK | Crítico |
Média | OK | OK | Crítico | |
Baixa | OK | OK | Crítico |
Tabela 6 – Formação do Custo da Função – Fonte Engenharia e Análise do Valor, IMAM
5.3.8 Identificar funções críticas/desnecessárias
Esta é uma fase de suma importância, pois é aqui que podemos visualizar claramente os pontos do produto que podem ser melhorados e efetuarmos a redução de custos, Tabela 7.
A identificação de funções críticas é facilmente determinada através da analise do diagrama vetorial, pois toda função que tem tangente menor que 1 e resultante alta ou media é considerada critica.
A identificação de funções desnecessárias é feita questionando-se: “caso eliminarmos esta função, o produto trabalha e vende? Se a resposta for sim, a função é desnecessária e deve ser eliminada. Também quando temos dois ou mais componente fazendo a mesma função chamamos de “funções redundantes” e talvez possa ser eliminada em um dos componentes.
Após todas estas identificações, faremos o questionamento que passa a ser uma decisão na análise “é permitido ou não re-projetar o produto? Se a resposta for sim, entraremos na fase de criação da EV. Isto pode ocorrer quando percebermos que e mais viável criar um novo produto do que apenas fazer melhorias. Se a resposta for não, partiremos para a próxima fase do plano de trabalho.
Classificamos também em “obrigatório” ou “desejável” e se é de “uso” ou “estima”, feito isso segue a seguinte regra de análise:
O,U : deve ser atendida
O,E : deve ser atendida
D,E : deve ser questionada
D,U : Deve ser questionada (porém algo está errado, rever classificação)
Tabela 7 – Especificações e Requisitos – Fonte Engenharia e Análise do Valor, IMAM
5.4 Fase da criatividade
Os objetivos desta fase são responder as seguintes perguntas:
a) O que mais pode desempenhar a função?
b) O que pode ser alterado no produto?
Essa fase é considerada vital para o sucesso do plano, pois é na criação de normas e diferentes alternativas para desempenhar a função que se fundamenta a análise do valor. Para alcançarmos o nosso objetivo necessitamos de um importante instrumento, criatividade aplicada de forma sistêmica na direção do objetivo proposto.
Apesar de termos um item especifico sobre criatividade e dentro dele termos apresentado a técnica do “brainstorming” relembramos aqui as quatro principais técnicas que devem orientar essa fase:
- Consiga a maior quantidade possível de idéias sem se preocupar com qualidade;
- Anote todas as idéias;
- Construa idéias sobre a idéia;
- Adie o julgamento para uma fase posterior;
O principio da fase de inovação pode ser estabelecido como segue:
- Convencionalmente, a tentativa de descobrir o “valor ótimo” leva a uma comparação de alternativas ou de produtos existentes, sendo que a melhor das alternativas existentes apresenta um melhor valor
Para a AV, a comparação de alternativas existentes ou conhecida é o ponto de partida e não de chegada. A criatividade é então aplicada para achar uma alternativa não conhecida anteriormente.
Portanto, o “valor ótimo” para a AV é o menor custo para desempenhar com confiança uma função necessária e não a analise de custo de alternativas existentes.
5.5 Fase de desenvolvimento
5.5.1 Objetivos:
- Avaliar todas as idéias geradas na fase de criatividade;
- Trabalhar as idéias com potencial visando sua efetivação;
- Selecionar idéias para aprovação final;
- Aplicável (A);
- Inaplicável (I);
- Pesquisa adicional (PA);
5.5.2 Classificar as alterações propostas:
Essa analise é chamada de método seletivo, seu principal objetivo é fazer uma avaliação técnica da proposta.
Nesta classificação devemos considerar como fatores críticos:
- Se a idéia funciona;
- Se a idéia economizara dinheiro
- Se a idéia é possível de ser realizada;
- Se a idéia é durável;
- Se a idéia é utilizável.
As idéias classificadas como “inaplicáveis” serão descartadas; as idéias classificadas como “aplicáveis” continuam e as idéias classificadas como pesquisa operacional deverão ser trabalhadas.
5.5.3 Melhorar ou esclarecer a alteração proposta
Essa é uma etapa desejável e se aplica as propostas que foram classificadas como “pesquisa operacional”.
Devera ser investido algum tempo para esclarecer melhor a idéia (especialistas ou fornecedores).
Essa etapa termina quando você conseguir classificar a idéias em: “aplicável” ou “inaplicável”.
5.5.4 Identificar vantagens/desvantagens
Devemos fazer uma avaliação mais refinada nas propostas que foram classificados como aplicáveis e identificar todas as vantagens que estão nos favorecendo para vender a idéia na fase de recomendação.
Um ponto mais importante ainda é bancar o “advogado do diabo” e procurara todos os motivos que farão com que o produto não trabalhe e nem venda. Estaremos assim antecipando ao consumidor e diminuindo as chances do produto falhar no desempenho e /ou na venda.
Após termos identificados todas as desvantagens devemos fazer a seguinte pergunta “a desvantagem existe e preocupa?”; casos sim deverão removê-la. Casos não partirão para a escolha das melhores propostas
5.5.5 Remover desvantagens
Essa etapa só é aplicada as idéias que apresentarem desvantagens e que nós acreditamos que valha a pena investir tempo para removê-la. Para isso, se necessário devemos consultar especialistas ou fornecedores para auxiliar nesta tarefa.
Após o esforço empreendido, faremos a seguinte pergunta: “desvantagem removida?”; caso positivo submeta-a novamente à identificação de novas desvantagens; caso negativo elimine a proposta, pois a desvantagem impedirá que a idéia trabalhe ou venda.
5.5.6 Escolher melhores propostas
Nesta etapa a nossa preocupação foi com a viabilidade técnica das propostas. Nossa preocupação passara a ser com a viabilidade econômica das propostas, se necessária devemos a área competente um estudo econômico completo da proposta. Será recomendada a que apresentar melhor desempenho técnico e econômico, para isso poderá utilizar o seguinte método:
- Método RPC;
- Método racional KT;
- Método FIRE;
- Método de comparação;
- Método da viabilidade econômica;
Após essa avaliação, teremos as propostas viáveis que serão submetidas à fase de recomendação para a sua implantação.
A decisão final das melhores propostas deverá ser do grupo, após analise de todas as informações.
Nosso objetivo é chegar a conclusões possíveis de serem adotadas e desenvolver mais que uma solução que apresente acréscimo no valor do item ou conjunto estudado.
5.5.7 Como ultrapassar obstáculos
Deve ser lembrado que neste desenvolvimento estamos interessados na elaboração e apresentação da idéia. E importante compreender que a analise do valor não é imune a obstáculos.
Alguns exemplos de obstáculos ou rejeições de novas idéias:
- Nos não queremos fazer isto agora;
- Isto vai alem de nossas responsabilidades;
- Muita teoria;
- Bom pensamento, mas é impraticável;
- De onde você desenterrou tal coisa?
- Por que mudar? Isto funciona bem assim.
- Preparar apresentação da proposta viável para a aprovação;
- Tomar ações para que a proposta aprovada seja implantada;
5.6 Fase de Implantação
5.6.1 Objetivos
5.6.2 Preparar e apresentar recomendação
Após termos pesquisado os fatos através das perguntas:
- O que é?;
- O que faz?;
- Quanto custa?;
- Quem mais faria o que ele faz?;
- Quanto custa aquilo que faria o que ele faz?;
- Trabalha;
- Vende;
- Viável tecnicamente;
- Viável economicamente;
Devemos dirigir a nossa atenção as pessoas que irão aprovar as idéias propostas, procurando lembrar que as idéias precisam ser apresentadas de forma correta.
Convêm termos em mente que normalmente as propostas serão submetidas à apreciação de pessoas que ocupam diferentes posições na escala administrativa da empresa. Elas desejam informações objetivas e possíveis de serem interpretadas rápida e facilmente.
Outro ponto importante a ser destacado é que essas pessoas:
- Só decidem perante fatos concretos.
- Não dispõe de tempo para ler relatórios completos e complexos
- Querem saber quando, quanto e como investir.
- Quere saber quanto e como o projeto trará economias.
- Querem saber em quanto tempo o investimento será amortizado.
- Querem saber quanto tempo levara para implantar a idéia (lead time).
- Querem saber quanto começarão a gozar dos benefícios do melhoramento.
Portanto a apresentação deve ser sucinta, clara e objetiva e constar os seguinte itens:
- O que é o produto (nome, aplicação, uso, quantidade, matéria, processo e métodos aplicativos).
- O que faz o produto (descrição sumária da função básica, ou seja, a razão de sua existência).
- Principais especificações e requisitos (do consumidor e do fornecedor).
- Qual o seu custo atual.
- O que mais poderá desempenhar os requisitos funcionais (exponha somente a melhor idéia)
- Qual a economia da idéia (por unidade anual).
- Se tem investimento (quanto e quando investir e em quanto tempo se dará o retorno).
A apresentação deve conter um desenho ou croqui da idéia, fotos ou uma amostra, resultados de testes, ou seja, tudo aquilo que pode facilitar o entendimento da proposta.
Deverá ser anexada uma folha de estudo de viabilidade econômica fornecida pela área competente para validar as informações relativas aos custos apresentados.
Após apresentação concluída a mesma será analisada e poderá ser aprovada ou rejeitada. Se aprovada, partiremos para a implantação; caso seja rejeitada, poderemos, dependendo do motivo abandonar a idéia ou raenalisá-la onde for necessário e então submetê-la novamente à apreciação.
5.6.3 Implantar
Neste ponto começa a ser concretizado todo o esforço do Grupo de Trabalho.
Normalmente a implantação não será feita pelos componentes do Grupo de Trabalho. Surge a partir daí a necessidade de integração dos órgãos responsáveis pela execução de testes e preparação para a produção.
Para que tudo saia de acordo com que foi apresentado é fundamental que haja um acompanhamento de alguém do Grupo de Trabalho; para que não haja distorções do proposto com o realizado; caso isto não ocorra poderemos ter surpresas desagradáveis.
Após a apresentação da idéia, o Grupo de Trabalho poderá voltar à atenção para outra prioridade (fase de preparação) e continuar todo o processo. Vale lembrar que este trabalho não tem fim!
6. CONCLUSÃO
A Engenharia e Análise de Valor servem ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de produtos, operações técnicas e outros processos em todas as áreas da economia, ciência e administração. Por meio da aplicação do sistema ativo de análise de valor são alcançados geralmente um aperfeiçoamento significativo e um aumento de valor dos objetos trabalhados, que estão ao mesmo tempo ligados a uma redução das despesas e dos custos em relação à situação original. A análise de valor é realizada basicamente de acordo com cada projeto específico e em pequenas equipes interdisciplinares.
Por meio da análise de valor podem-se alcançar reduções de custos e melhorias dos serviços de até 50%. A análise de valor afirmou-se na prática por décadas (desde 1947). O potencial de economia é geralmente alto, uma vez que funções dispensáveis (ou cumprimento de funções) de um produto são corrigidas, novas soluções são encontradas e, com isso, "custos desnecessários" são eliminados.
Na análise de funções é importante obter um grau de abstração adequado ao objeto da análise e às metas. Um grau demasiado baixo não encontra eventuais possibilidades de inovação. Um grau demasiado alto produz ou nenhuma idéia ou algumas difíceis de realizar e, além disso, consome muito tempo e é muito dispendioso. É difícil reunir os integrantes para uma equipe interdisciplinar por alguns dias. Porém os ganhos que essa prática pode trazer, com o tempo justifica a sua realização.
7. Referências
CSILLAG, João Mario. Análise do Valor. São Paulo: Atlas, 1985
ENEGEP1998-art403
POSSAMAI, O. Análise de Valor Agregado. Apostila - Pós-Graduação em Engenharia Produção, Departamento de Engenharia Produção, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2002.
ENEGEP2008_TN_TSO_069_492_106
ABREU, R.C.L. Análise do valor. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1996.
BASSO, José Luiz. Engenharia e analise do valor. IMAM,1991
PEREIRA FILHO,R.R. Análise do valor – processo de melhoria continua