ESTUDO DO SOMATOTIPO EM CRIANÇAS QUE PRATICAM FUTSAL
Resumo
Através de um estudo bibliográfico, a pretensão do trabalho é de analisar o somatótipo de crianças que praticam futsal, com idade de 08 a 13 anos de idade, participantes do Projeto Esporte e Lazer da Cidade – PELC – núcleo Universidade Católica de Brasília – UCB. Vinte crianças do sexo masculino foram estudadas. Medidas antropométricas de IMC, estatura, idade, freqüência cardíaca, espessura de dobras cutâneas, perímetros e diâmetros foram coletados nos dias de aula, pela manhã. Os valores da composição corporal foram os seguintes: índice de massa corporal 18,67 ± 3,86. O somatótipo médio foi: endomorfia, 5,28 ± 1,92; mesomorfia, 0,99 ± 2,54; ectomorfia, 3,24 ± 2,03, evidenciando a predominância do componente endomorfico.
PALAVRAS – CHAVE: Somatótipo, Antropométria e Composição corporal.
INTRODUÇÃO
Através de leituras históricas percebemos a preocupação do homem com a construção de uma forma física ideal. É evidente que este fenótipo físico, oriundo de heranças filogenéticas do processo de evolução foi construído a partir de atividades primitivas e, ainda, fruto do processo de adaptação, característica da busca pela sobrevivência humana. Na atualidade, esta mesma estrutura anatômica funcional está atrelada a valores culturais impostos pela sociedade contemporânea, com maior ênfase à estética do que à funcionalidade. Em nosso processo civilizatório, muitas taxonomias para a corporeidade foram criadas. Na Grécia antiga, Hipócrates classificou estas formas corporais em duas categorias: “habitus ptisicus”, indivíduo magro com predominância no eixo longitudinal, e “habitus apopeticus”, indivíduos maiores com predominância no eixo transversal, CARNAVAL (1997), ROCHA (1996). Posteriormente, surgiram outras taxonomias. Atualmente, utilizamos o somatótipo de Heath & Carter como um dos modelos científicos que expressam as características físicas baseadas em traços de fenótipos.
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1 Formando do Curso de Educação Física da Universidade Católica de Brasília
² Professor Orientador
O somatótipo é uma descrição semi - quantitativa da forma relativa existente e da composição corporal humana, que é expressada por três valores numerais representantes do componente físico, exposto sempre na mesma ordem: endomorfia, mesomorfia e ectomorfia, NORTON (2005). Além disso, o somatótipo é um resumo quantitativo do tipo corporal do indivíduo e através dele podemos definir a quantificação da forma e da composição atual do corpo humano, FERNANDES FILHO (2003). A endomorfia é caracterizada por predomínio no volume abdominal, flacidez muscular e pequenas dimensões relativas das extremidades. A mesomorfia caracteriza-se por um acentuado desenvolvimento muscular e ósseo, com as medidas torácicas predominando sobre as abdominais. Na ectomorfia é predominante um aspecto de fragilidade, hipotonia muscular e magreza, com as medidas do comprimento dominando sobre os diâmetros e circunferências, SILVA (2004).
As classificações deste modelo são expressões numéricas que não possuem uma unidade específica nem valores máximos. Valores na faixa de 1 a 2,5 são considerados baixos; entre 3 e 5, moderadas; de 5,5 a 7, altas; e acima de 7,5, muito altas. Também são encontrados valores de 12 ou mais, porém raramente, NORTON (2005).
No Brasil, a somatotipologia tem tido como propósito caracterizar perfis específicos de atletas em diversas modalidades esportivas, classificando estes quanto à sua função ou posição na tática dentro da equipe, bem como facilitar a busca e seleção de talentos esportivos, FERNANDES FILHO (2003). É altamente necessária a criação de modelos amparados na ciência que sirvam de suporte para a seleção e detecção dos talentos esportivos, WEINECK (1991). Em esportes coletivos e individuais podemos analisar alguns estudos referentes ao somatotipo de atletas do sexo feminino com nadadoras, ARAÚJO (1979), atletas de ginástica olímpica, handebol, NOGUEIRA (2005), voleibol e futsal QUEIROGA (2005). Na década de 80, a Federação Internacional de Futebol de Salão (FIFUSA) autorizou oficialmente a prática do futsal. Nesta época, porém, a educação física “burguesa, branca e machista” que predominava no país, não atendia com igualdade as ramificações da sociedade multicultural, que sofria ainda com preconceitos de raça, classe social, religião e, principalmente, gênero, SBC (2006).
Em 1986, a revogação do decreto do Conselho Nacional de Desportos, imposto pela ditadura militar, que proibia às mulheres a prática de atividades físicas e esportivas envolvendo lutas, halterofilismo e jogos de contato físico, como o futebol, fez o futsal começar a ser difundido com maior força no país. Observou-se a evolução deste esporte nestas duas décadas. Até 2003, a Taça Brasil de futsal feminino já havia completado 12 edições e, pela primeira vez, foi criada uma Seleção Brasileira, SANTANA (2003).
Em vista que as crianças atendidas pelo projeto PELC, são crianças de baixa renda, onde à saúde, a alimentação e a educação não são de qualidade, prejudicando o processo de desenvolvimento em relação às crianças da classe alta e média. O objetivo do estudo será caracterizar o somatotipo em crianças em idade escolar, que praticam futsal, através do Projeto Esporte e Lazer da Cidade – PELC – Núcleo Universidade Católica de Brasília – UCB.
MATERIAL E MÉTODOS
Amostra: foi constituída por 20 crianças do sexo masculino, com idade entre 8 a 13 anos de idade praticantes da modalidade futsal. As crianças foram escolhidas de forma aleatória, sendo que todas participam do Projeto Esporte e Lazer da Cidade – PELC – Núcleo Universidade Católica de Brasília – UCB.
Instrumentos: Para análise da composição corporal serão coletados dados referentes a massa, estatura, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica e freqüência cardíaca em repouso.
As medidas necessárias para o presente estudo, serão obtidas utilizando-se os seguintes instrumentos: balança com estadiômetro da marca Filizola, com precisão de 100g e escala de 0 a 150 kg, devidamente calibrada e aferida, para determinar o peso corporal e a estatura; compasso de dobras cutâneas da marca Cescorf Cientifico, fabricado no Brasil, com precisão de 0,1mm, para medir a espessura das dobras cutâneas; fita métrica de metal flexível, com 2m de comprimento e precisão de 1mm, para aferir as circunferências dos segmentos corporais; paquímetro da marca Sanny, fabricado no Brasil, com variação entre 1 e 30cm, graduação de 1mm, para avaliar os diâmetros dos segmentos corporais; esfigmomanômetro da marca BD, com fecho em metal; estetoscópio Rappaport Premium e monitor cardíaco da marca Pollar, mensurado em batimentos por minuto (bpm). A análise estatística será realizada por intermédio do software estatístico, utilizando estratégias descritivas para representar valores médios e desvio padrão.
Procedimentos: Os dados coletados referente a massa, estatura, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica e freqüência cardíaca, serão analisados e classificados nos três valores do componente físico como endomorfia, mesomorfia e ectomorfia, com base nos valores médios e desvio padrão das avaliações de cada criança, seguindo o somatótipo de Heath & Carter, CARNAVAL (1997).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Diante dos objetivos propostos para o presente estudo os resultados retratam-se as variáveis de morfologia (estatura, índice de massa corporal, e os componentes do somatotipo – endomorfia, mesomorfia e ectomorfia).
TABELA 1 – Valores de médias e desvios padrões das variáveis (idade, estatura, freqüência cardíaca e IMC).
VARIAVEIS MÉDIA E DESVIO PADRÃO
IDADE 10,55 ± 1,79
ESTATURA (cm) 150,55 ± 11,62
FREQUENCIA CARDIACA (bpm) 74,2 ± 8,36
IMC (kg/m²) 18,67 ± 3,86
TABELA 2 – Valores de médias e desvios padrões das variáveis (endomorfia, mesomorfia e ectomorfia).
VARIAVEIS MÉDIA E DESVIO PADRÃO
ENDOMORFIA (ENDO) 5,28 ± 1,92
MESOMORFIA (MESO) 0,99 ± 2,54
ECTOMORFIA (ECTO) 3,24 ± 2,03
De acordo com a Tabela 1 foi constatado que a idade das crianças é de 10,55 ± 1,79, estatura de 150,55 ± 11,62, com a freqüência cardíaca de 74, 2 ± 8,36, índice de massa corporal (IMC) de 18,67 ± 3,86. Já os componentes do somatótipo na Tabela 2 apresentaram os seguintes valores para a endomorfia, 5,28 ± 1,92; mesomorfia, 0,99 ± 2,54 e a ectomorfia, 3,24 ± 2,03. Com base nos resultados das avaliações, foi possível diagnosticar que a endomorfia prevaleceu sobre a mesmorfia e a ectomorfia. Por não se tratarem de atletas, mas de crianças em fase de desenvolvimento, a predominância da endomorfia se deu, pois as mesmas só praticam atividade física através do projeto PELC, apenas dois dias da semana.
GUEDES (2001) relata que o desempenho motor de crianças e adolescentes têm-se constituído em uma preocupação crescente entre os pesquisadores da área da saúde, visto que a atividade física regular está associada à prevenção, conservação e melhoria da capacidade funcional, e, em conseqüência, à saúde destas populações. Assim, a prática regular da atividade física, mediante exercícios físicos sistematizados podem promover a aquisição de adaptações fisiológicas e morfológicas para um melhor funcionamento orgânico, para a promoção e a melhoria da saúde, contribuindo para a qualidade de vida das pessoas. As análises dos componentes corporais e antropométricos das crianças são de fundamental importância. Logo, o conhecimento dos somatotipos ideais, incorporando com outras variáveis morfológicas passiveis de serem estudadas, além de contribuir para a seleção esportiva das crianças, permitem uma análise minuciosa individual possibilitando a prescrição especifica do treinamento, o qual leva em consideração o perfil morfológico do atleta e as necessidades da modalidade.
CONCLUSÃO
Características demonstram o predomínio da endomorfia nas crianças estudadas, acredita-se que o desempenho poderia ser melhorado caso as mesmas apresentassem superioridade da mesomorfia em relação ao perfil atual. No caso específico do futsal, os esforços solicitados são provenientes predominantemente da velocidade, agilidade e potência muscular, presentes nas ações de deslocamento (laterais e para trás), saídas e paradas rápidas, saltos, chutes e piques. Desta forma, o futsal se caracteriza pela realização de esforços intensos de curta duração. Neste sentido, a dominância do componente mesomorfia ou um equilíbrio com a endomorfia ou ectomorfia auxiliaria em ganho no desempenho físico. Isto certamente deve ser um objetivo do treinamento físico, ou seja, buscar mediante o planejamento alterar os componentes corporais dos atletas com intenção de moldar uma estrutura corporal que combinará com o perfil fisiológico da modalidade.
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