Honras e Farsas

Honras e Farsas

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Pela honra não me furtarei à farsa, se da impostura depender a sua altura.

Quantos reis, presidentes, heróis e ídolos não poderiam repetir essa frase como epígrafe de si mesmos? E quantas vezes nós próprios, pessoas comuns, nos submetemos todos os dias, inconfessos, a esse gesto?

Vivemos num mundo de vaidades, interesses e hipocrisias. Creio que sempre foi assim. Não se envaideçam então, hipócritas e honrados, pois não é mérito da nossa civilização contemporânea.

Mas o que falar das honras e farsas dos dias que se seguem?

O Presidente Lula recebeu recentemente (sem pestanejar em modĆ©stia: ā€œĆ‰ hora de reinventarmos o mundo e suas instituiƧƵesā€) o prĆŖmio de ā€œEstadista Globalā€, do Fórum EconĆ“mico Mundial, em Davos. Aquele mesmo que o seu partido amaldiƧoava, acusando de antro de capitalistas insensĆ­veis, quando era oposição. E o Fórum Social Mundial, que nasceu como contraponto ao outro, num antigo reduto petista, Porto Alegre, serĆ” que tambĆ©m considera Lula um ā€œEstadista Globalā€? Afora a retórica, qual o mĆ©rito de Lula para ser honrado de tal maneira, por acaso ele mudou algo na ordem mundial? E qual o interesse do Fórum em premiĆ”-lo, jĆ” que o Brasil nĆ£o tem toda essa importĆ¢ncia no grande xadrez polĆ­tico internacional? Talvez uma farsa para afagar os mais sensĆ­veis e esquerdistas, coroando um Presidente muito popular e carismĆ”tico, Ć­cone dos esquerdistas.

Lembremo-nos de que ninguĆ©m menos que o Presidente dos EUA, Barack Obama, chamou Lula de ā€œo caraā€, mais pelo seu carisma do que por qualquer outra coisa. E o próprio Obama, com menos de um ano na presidĆŖncia foi laureado com o prĆŖmio Nobel da Paz, e na cerimĆ“nia de entrega do prĆŖmio tentou justificar a guerra do AfeganistĆ£o.

Mahatma Gandhi, por exemplo, que lutou pela liberdade da ƍndia contra o impĆ©rio britĆ¢nico, pregando a paz e a nĆ£o violĆŖncia, nĆ£o ganhou o Nobel da Paz, enquanto Yasser Arafat, que de fato buscou um entendimento entre palestinos e israelenses, mas depois de uma carreira promovendo ataques terroristas, foi contemplado com o prĆŖmio.

Saindo da polƭtica e entrando no terreno da literatura, temos, como membros imortais da Academia Brasileira de Letras, JosƩ Sarney e Marco Maciel. AlguƩm conhece alguma obra literƔria de vulto dos dois polƭticos? Talvez o terreno da literatura se confunda um pouco com o terreno da polƭtica. Honras e farsas.

Grandes nomes da literatura, como Marcel Proust, Jorge Luis Borges e Franz Kafka, entre outros, tidos atualmente quase que unanimemente como os maiores escritores do século XX, não ganharam o Nobel de Literatura. Jean Paul Sartre, filósofo e escritor, ganhou, mas se recusou a receber. E quantos que ganham um premiozinho de nada e estufam o peito de tanto orgulho.

Professor ā€œHonoris Causaā€, ā€œCidadĆ£o EmĆ©ritoā€, ā€œCidadĆ£o HonorĆ”rioā€, quantos nomes de ruas e de praƧas… Enfim, nada como um tĆ­tulo e uma medalha para insuflar o nosso ego, e nos encher de honra, mesmo que seja farsa.

(AndrƩ Augusto Passari)


Autor de: “Fragmentos do tempo”

Editora: Arte Paubrasil

GĆŖnero: Poesia/Literatura brasileira

PƔginas: 112

PreƧo: R$ 20,00 (R$ 14,60 no site da Editora)


Para encomendar:

– Livraria Saraiva

– Livraria Cultura

– Livraria artepaubrasil (www.artepaubrasil.com.br)

– e outras