Para mim nenhum escritor de novela será tão marcante quanto o Manoel Carlos. Sinto-me um injusto em ter falado no artigo anterior sobre a televisão e esquecido desse grande mestre que nos ensinou , nos ensina e espero ver suas novelas por mais dez anos se não for pedir demais ao autor. Mas, para compensar essa mancada, dedico-lhe este artigo em especial falando de sua peculiaridade que o torna, na minha opinião, um dos maiores escritores do meio televisivo.
Escrevo esse artigo sobre um viés de um grande admirador e fico embevecido com a capacidade do Maneco. Suas novelas e mini-series nos surpreende a cada capitulo que nos prende ate o final. Mas existe um detalhe central de sua novela que se torna o diferencial. Ele não tenta combater o tédio como as outras novelas. Ele lida com o tédio e faz disso algo surpreendente que no desenrolar das novelas nos não percebemos: sempre os personagens são os mesmos ou ao menos os personagens centrais. Não pense que isso é algo fraco e torna a sua novela frágil. Pelo contrario, a mistura de poesia e sensibilidade do autor torna imperceptível esses detalhes que fica ate difícil de imaginar o que seria de suas novelas sem o Jose Wilker ou da escolha do mesmo nome Helena para um personagem tal.
A dinâmica dos personagens sempre é movido de muita discussão filosófica e erudição onde prende qualquer intelectual. Caso um personagem esteja a beira da morte existe debate filosófico em torno do assunto. Isso quando ele não deixa sua máxima quando fala sobre o amor e do viver a vida. Parece que o seus personagens vibram em torno do assunto. Assistir as novelas de Manoel Carlos é uma celebração a vida pois seus personagens estão sempre cheios de energia tudo é celebrado. Ate mesmo as empregadas domesticas são cheias de vida e são sempre destaques em suas novelas. Seus personagens sempre andam com livros na mão falando de literatura, autores, quem não se lembra de laços de família,da livraria do Miguel? É por isso o meu interesse desde adolescente.
Outra característica que o torna impar e de grande talento do Manoel Carlos é que existe uma rotatividade de cenas que sempre prende a atenção de cada telespectador. Quem não lembra da novela mulheres apaixonadas exibida há tempos? Ali ficou bem translucido essa questão: ora a Suzana vieira domina a cena ora a Vera Holtz e assim elas se revezavam com as demais mulheres para compor a novela num grande encanto. Sem contar que elas ,estão sempre por cima, as mulheres em suas novelas são sempre atuais inteligentes independentes ,sábias, sensíveis e desafiam qualquer homem .
Suas novelas invadem o publico brasileiro, desafiando os valores bem como o realismo –naturalismo, algo meio Eça –Machado, onde o casamento é uma instituição sempre falida onde todo mundo trai todo mundo e a monogamia uma piada. Minha mãe mesmo peguei um dia falando: “horas, mas ela não estava com o outro? Agora esta com esse?”Em sua novela os personagens estão sempre com o a libido muito intenso,sempre insaciáveis bem característico do realismo naturalismo em que o homem é visto como um animal. Sua novela penso que se assemelha a um filme pornográfico.
O Manoel Carlos em sua máxima brinca com o seu publico bem como faz o machado em Dom casmurro em Capitu, quando o machado nos surpreende dizendo que não existe um significado literal para a palavra casmurro , mas algo em sua especificidade e eu vejo muito disso nas novelas no Manoel. Ele brinca com o telespectador, provocando a sua emoção em tom ironizante as vezes.Em viver a vida mesmo , a Letícia Espiler ficava com o amante no motel, hora pensando ou não em trair o marido com suas duvidas.Existe nas suas novelas um elo muito grande com a sátira e o mesmo tempo um grande deboche pela vida. A homossexualidade volta e meia fica em alta , para compor esse arsenal realista.
Muitos falam por ai que o Maneco escreve sobre as elites do rio, mas é para as elites que temos que estar atento.Essa elite carioca e não so carioca ,mas partindo para um caráter mais abrangente representa a elite brasileira de um modo geral, consumista, sínica, falida que sofre de neuroses esquisitices e deficiências como a classe “C”, “D” e “E” mas que se restringe e quer passar desapercebida do cenário socioeconômico e que ao mesmo tempo não e referencia para ninguém e eis ai a sua rebeldia saudável, ele como membro dela critica com o seu olhar clinico seu hábitos,modo de ver a vida, o cotidiano em tom jornalístico investigativo assim como fez o Eça de Queiroz na sociedade portuguesa no seu tempo lá no século XIX
E o que dizer das musicas de bossa nova, que nos deixa mais feliz relembrando o Vinicius e suas poesias,as paisagens do Leblon que da vontade de qualquer pobre mortal ir la visitar.Manoel Carlos mostra o Rio , suas belas praias e o que há de melhor nesse pais o que nos torna orgulhosos de ser brasileiro.
E o que dizer também das historias no final? Que ensina e nos lhe da lição de vida a cada final de novela, nos deixando reflexivos e esperançosos ate mesmo quando vamos dormir e trabalhar no dia seguinte.
São inúmeros os motivos que o faz um grande autor de novela, eu enquanto um grande fã poderia passar horas e dias escrevendo sobre ele mas e uma pena que tenho que sempre me restringir é um prazer muito grande escrever sobre o que você gosta sem obrigações.Acho que as escolas deveriam ter sempre isso em mente para estimularem seus alunos a produzirem algo.Pois bem,se um dia Manoel Carlos partir dessa para uma melhor ficarei profundamente consternado pois ele foi o único autor de novela que me deixou extasiado no horário das oito provocando grandes emoções e inspirações.
Danillo Cerqueira Barbosa é estudante , professor e escritor. 22/01/2010.