O carnaval de verdade é em casa

No Brasil, explode o carnaval nos quatro cantos. A alegria toma conta das ruas e nos sambódromos. Mas a mim, ela chega com menos impacto.

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Críticas ao Carnaval da Bahia

Numa boa, odeio a Ivete com seu brio de rainha baiana, aqui na Bahia pelo que me parece é cultural cultuarmos rainhas, reis políticos, afinal todo mundo manda nessa geringonça. A Margarete com o seu tom de voz insuportável e o Asa, fazendo vôos rasantes. O Durval Lelis nunca me agradou.

E o retorno do Netinho é pouco admirável. Acho péssimo o axé muito embora admire o trabalho feito por alguns poucos, mas nada é tão insignificante quando se esbarra na infinita miséria que é Salvador e o estado da Bahia.

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A Exclusividade do Carnaval Baiano

Recentemente me peguei assistindo uma matéria do Evaristo Costa, falando sobre os jovens e o que eles pensam do carnaval. E vi uma carioca criticando que o carnaval baiano é exclusivo e pouco democrático. Amei. Ela definiu precisamente. É porque ela não leu o artigo do Arnaldo Jabor chamado: De camisa amarela volto aos grandes carnavais, em que ele diz em seu artigo que: “o carnaval virou um produto”.

O Carnaval de Salvador: Inclusão ou Exclusão?

O carnaval de Salvador é assim, quem tem condições financeiras paga por um espaço reservado, enquanto do outro lado da corda, pobres diabos levam bofetadas de policiais cretinos vindos do interior e da própria capital. “O carnaval deixou de ser dos foliões para ser um espetáculo para os outros.” Claro, os outros, aqueles que possuem uma aquisição muito maior.

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Sem contar os índices de violência que açoitam os recônditos e esquinas de cada bairro. Estatísticas que são pouco mostradas pela televisão local, para que tudo fique perfeito e a exclusão se mantenha não muito evidente.

O Carnaval do Rio de Janeiro

Já o carnaval do Rio, acho um belo. Mas nunca consegui assistir a todas as escolas de uma vez pela televisão. Sempre durmo no meio. E pra ser sincero também, nunca achei tanta graça assim. Aliás, sempre teve alguma graça sim, quando vejo aquelas mulatas sambando, mostrando os seus lindos traseiros e seios pontudos.

E o samba de raiz que eu adoro, me vem aqui alguns trechos daquela música: “não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar”, um lindo samba contando a história do malandro carioca que nunca morre. O pagode na Bahia eu faria questão que ele morresse, mas sempre inventam de se renovar a cada verão.

Mas no carnaval carioca há sempre uma peculiaridade que me incomoda, pois volta e meia um ou outro integrante de escola tal morre devido às maracutaias com traficantes do morro da Mangueira ou da Rocinha. Fico com o olhar meio que suspeito.

O Admirável Carnaval de Recife

O admirável carnaval mesmo é o de Recife, quando muitos torcem o nariz dizendo que ninguém merece, quando na verdade estão esquecendo da poesia, da simplicidade do carnaval de um povo, sem apartheids e divisões entre o branco e o preto.

Quando todos estão indistintamente ouvindo aquela música sem muita tecnologia, mas que nos faz lembrar a simplicidade das coisas e uma alegria espontânea, sem muitos exageros.

Ou quando as pessoas vão tomar banho de lama e vão para as ruas mostrar a evolução de um bloco que surgiu do nada, pondo seus filhos no pescoço.

Mas o meu carnaval mesmo, de verdade, é em casa, acompanhando essa diversidade que aspira estonteantemente o nosso país pela televisão. Adoro ver a cidade pacata se esvaziando, vendo os pobres do interior indo para a ilha ou para a capital. Quando não, vou para o interior da casa da minha namorada. Ver a vovó querida. E me deitar na rede, assistindo o dia passar tranquilamente, ouvindo o canto dos pássaros e a lentidão dos dias, com menos ação e menos agito, à espera do ano se repetir novamente.

Danillo Cerqueira Barbosa é estudante de física na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, professor e escritor. Texto escrito em 19/02/2010 E-mail: danillo1987@hotmail.com