De cordeiro, só um pouco. 1
De lobeiro, só o dobro.
Camufla o lobo, vira cordeiro,
Acoitar no bolso, dez mil é pouco,
No bolso do cordeiro e do lobo.
O lobo, alado. O cordeiro, letrado. 2
E a massa de bobo da corte, malfadada.
É a filosofia da vaca.
Sem o povo, na contramão,
Atrapalhando o tráfego.
O bobo manetado embanana no ablar. 3
Antes, beijinho pra lá e pra cá.
Depois, pé na bunda vai levar.
Faz a casa, limpa a casa,
Entrega a casa, pro bonito ir morar.
Com o povo não tem aliança. 4
Tem promessa, tem desprezo,
Só por cima tem bonanza.
Que desalente a esperança.
Esquerda, direita, centrão. 5
Mistura de canjica e feijão.
Pra enganar a todos e a João.
A Maria e o Zé da Silva, e o bobão.
É o povo morrendo na contramão.
Dez mil e tanto, no bolso do santo. 6
Que mente pro povo, que come o que?
Que tem desemprego, banana, mingau.
Pra poucos, a festa, o sarau.
Pro bobo da corte, o laláu.
Despojada infância sem honra, sem mel, 7
Sem tudo, sem nada, só gosto de fel,
Torrando de febre, no mundo perdida
Que resgate a honra, que não lhe custe a vida.
A gente estressada, oprimida, espinafrada 8
Que produz a riqueza e não goza a nobreza,
Que paga a conta, que move a vida,
É gente pra burro que sente a ferida.
Cem mil e tanto, no bolso do santo 9
Que garrota o povo que vive de que?
Carcomida é a gente exausta do mundo,
Sem leme e guarida, perdida na vida.
Psdb, demonê, pt, fumacê de kapetê. 10
É a rosqueta da parafuseta com chamuscado de kapeta.
E pó de pirim-pim-pim, que pro povo, nem assim.
Nem por crismas, nem por lei de Bacumin.
Por enquanto, seu bobão, 11
Prevalece a lei de Talião,
Digo, a lei de Serafim:
Nada pra vosmecê
Tudo tudo, só pra mim.
A massa produz a riqueza e agita,
Que paga a conta, que move a vida. 12
Essa massa de manobra sente a ferida.
É a mesma malfadada, desminguilida.
Milhão e tanto, no bolso do santo
Que garrota o povo, que come o que? 13
Carcomida é a gente, exausta da lida,
Sem leme e guarida, perdida na vida!
É a massa despeidorrada, sem canto, incanto. 14
Sem tudo, sem nada, a poeira, cheirando.
Na boca, o amargo,tragado do fel.
Os justos, perplexos. Sem beira, sem eira.
Gritando feridos no mundo ao leu.
É o povo queimando de febre. 15
É cidão no universo perdido.
É o infante sem honra e sem tudo,
É o campo sem lírio florido
E o Zé garrotado na vida.
A plebe queimando de febre
Massas amorfas repletas de crenças 16
Cheias de mitos, vazias de fatos.
Sem leme e guarida,perdidas na vida.
Otaviano Cabral - 2008