O TRABALHO COM GRUPOS NA ESCOLA

1 INTRODUÇÃO

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A função básica da escola é educar; para tal, nos dias atuais, necessitam-se uma série de adequações por parte de pais, professores, alunos e instituições de ensino, em função das demandas originadas pela vida moderna e dos novos conhecimentos estruturados pelos teóricos atuais.

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As escolas são instituições com doutrinas e regras próprias e que serão interpretadas e vivenciadas diferentemente por cada aluno, o que muitas vezes, geram dúvidas nos pais ao escolherem qual escola é mais ajustada às necessidades de seus filhos. A tríade de elementos que constituíram o processo educacional (aspectos constitucionais, vínculos familiares e ambiente escolar) nunca havia sido tão evidenciada como nos modelos educacionais modernos. O enlace da reflexão entre a educação e a escola, em voga atualmente, se concentram em dois pontos de debate: a educação tradicional e a educação progressista; a segunda propõe uma relação mais suave entre o aluno e a obtenção do conhecimento, na busca de prazer e efetividade nesse processo, enquanto que na primeira, já existe a garantia dos adultos, aparentemente aptos, que esse modelo formou.

“Na escola acontece um interjogo de forças inconscientes que se cruzam, opõe-se, conflitam-se ou se reforçam, através de situações manifestas, claras e evidentes, ou de um sutil operar oculto, latente, e, nem por isso, menos operante. Cria-se uma dinâmica grupal que precisa ser compreendida, e neste setting a presença de profissionais com treinamento para o trabalho com grupos é muito importante.” (OSÓRIO e ZIMERMAN p. 360).

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Sendo assim é necessário que os professores estejam preparados para lidar com as projeções que os alunos focalizarão sobre eles, pois estes são, depois dos pais, os primeiros objetos de “amor edípico”, o que significa que possivelmente haverá uma transferência afetiva do aluno para o professor; é primaz, então, que os professores estejam preparados para muitas vezes servir de “receptáculo” de impulsos, ansiedades, fantasias, paixões, pensamentos, etc; proveniente dos alunos.

A escola assume importância vital no desenvolvimento do indivíduo, pois, esta reproduz, em menor escala, os aspectos normativos e sociais encontrados no mundo, ou seja, a escola não é apenas a mediadora entre o indivíduo e o saber, mas também assume funções indispensáveis à socialização.

“Em busca de sua identidade o jovem encontra na microssociedade que é a escola, um sistema de forças que atuam sobre ele – entre outras coisas, reedita o ciúme fraterno, compete, divide, rivaliza, oprime e é oprimido, ou seja, reproduz o sistema social.” (OSÓRIO e ZIMERMAN p. 361).

A confiança entre família e escola se faz primordial, pois:

“Evidentemente, críticas existirão de parte a parte, mas elas deverão ser tratadas nos canais de comunicação existentes (ou a serem criados), ligando o binômio família-escola.” (OSÓRIO e ZIMERMAN p. 362).

Entretanto, devendo evitar críticas diante dos filhos, pois estas podem influir significativamente na relação deste com a escola.

2 COMPREENSÃO INTERSISTÊMICA

O que o autor chamou de compreensão intersistêmica, refere-se à dinâmica ocorrida entre a interação da família, escola e sociedade.

De um lado a família e suas expectativas quanto à escola, do outro as imposições sociais que afetam a todos, inclusive a escola e, “no meio”, a própria escola, incumbida de ser a mediadora entre o aluno (que “surge na família) e o “mundo dos adultos” regido pelas convenções sociais.

Em suma, as expectativas dos pais em relação à escola são basicamente duas principais: o desejo que a escola eduque os filhos naquilo que a família não se julga capaz de ensinar e, que ele seja preparado para ingressar em uma universidade e tenha êxito profissional, já a sociedade

“(...) procura ter na escola uma instituição normativa que trate de transmitir a cultura, incluindo aí, é certo, não apenas conteúdos acadêmicos, mas, e principalmente, seus elementos éticos e estruturais.” (OSÓRIO e ZIMERMAN p. 363).

3 DINÂMICA DE GRUPO NA ESCOLA

Segundo o autor, em termos metodológicos existirão três maneiras de operar com grupos nas escolas: grupos de alunos, grupos de professores e grupos com pais. Ainda conforme o autor, os temas trabalhados em grupos na escola, também serão delineados por ansiedades, fantasias e defesas, como na dinâmica geral de qualquer grupo.

3.1 GRUPOS COM ALUNOS

Um exemplo dado no texto deixa claro como o tema das ansiedades, fantasias e defesas aparecem no trabalho com grupos em escolas:

Com a chegada do fim do curso em uma escola, os alunos do terceiro ano passaram a causar problemas relacionados às suas condutas. Foram, então, realizadas reuniões com os professores, (a fim de elucidar possíveis motivos de tal cambio no comportamento dos alunos) surgindo destas, teorias acerca das condutas estarem relacionadas à dificuldade dos alunos em se separarem da escola e dos próprios professores em se separar dos alunos com quem haviam compartilhado momentos, talvez, inconscientemente os professores não falariam do tema com os alunos a fim de prepará-los para tal acontecimento.

“Discutir e compreender os fatos, nos diferentes níveis (ansiedade, mecanismos de defesa, momentos evolutivos, funcionamento consciente e inconsciente, dinâmica de grupo,etc), auxiliou a todos – alunos, professores e famílias – e diminuiu em muito “o terror dos últimos dias de aula”, que foi substituído por excursões, torneios esportivos, apresentações teatrais sobre o tema, convite a profissionais para falarem sobre suas profissões e o mercado de trabalho, etc.” (OSÓRIO e ZIMERMAN p. 365).

As atividades em grupo com alunos são de grande importância para o funcionamento eficiente da vivência escolar. Recomenda o autor, dentro de sua experiência, que os grupos com alunos sejam feitos semanal ou quinzenalmente, com um número de não mais que 15 alunos, com as turmas divididas em dois grupos, coordenadas por um orientador escolar e seguindo os procedimentos gerais da metodologia dos grupos operativos.

3.2 GRUPOS COM PROFESSORES

Um exemplo descrito no texto mostra uma situação em uma escola onde os professores estavam com dificuldade em colocar limites em um grupo de alunos. Os professores não sabiam se tomar uma atitude drástica para limitar a conduta dos alunos e possivelmente parecerem castradores ou ir relevando e conversando com os alunos, porém, podendo parecer permissivos. No decorrer do trabalho com este grupo, os professores mostraram saber o que fazer, em teoria, para limitar os alunos, porém na prática lhes era complicado tomar as atitudes pertinentes à situação. O trabalho em grupo possibilitou a todos entender o que acontecia: os professores estavam descontentes com as más condições salariais, porém esse tema ainda não havia sido trabalhado de forma consciente por eles.

“Ficou evidente para os professores que suas dificuldades em pôr limites deviam-se ao fato de que os alunos tinham atitudes que eles, de maneira inconsciente, estimulavam, aprovavam e – de certa maneira – com sua passividade estimulavam; eles, os adultos, não podiam atacar diretamente a instituição, coisa que os alunos faziam por eles... a compreensão destes mecanismos permitiu recuperarem seu conhecimento pedagógico e agir de forma madura e eficaz.” (OSÓRIO e ZIMERMAN p. 367 / 368).

3.2.1 CONSULTORIA PSIQUIÁTRICA

O trabalho de consultoria psiquiátrica na escola é um modelo muito importante e eficaz na dinâmica grupal com professores. O ideal é que seja coordenado por uma pessoa que não esteja diretamente envolvida nos temas e situações que serão analisadas, para que se obtenha uma visão neutra.

“Minha experiência com esta atividade compreende um trabalho semanal, programado para dois semestres letivos, com grupos de orientadores, em torno de 7 ou 8 profissionais, com uma hora de duração em cada encontro. É necessário que seja um projeto que tenha duração razoável, pois ele tem um objetivo informativo e, em certa medida, também formativo, se considerarmos que as próprias vivências do grupo serão trabalhadas para desenvolver habilidades nos participantes.(...) considero este tipo de atividade uma das mais importantes no trabalho com grupos de professores.” (OSÓRIO e ZIMERMAN p. 369).

É importante reconhecer as resistências existentes no trabalho grupal com professores, muitas vezes, estes têm a fantasia de que são mestres e não vão à escola para aprender, que representam o “mundo adulto” assim sendo maduro e racional.

4 GRUPOS COM PAIS

Grupos com pais podem ter diversas formas de configuração, dependendo das necessidades a serem abarcadas pelo trabalho: a) grandes grupos, com um tema geral escolhido pelos pais, orientados por profissionais (este grande grupo, em um segundo momento será subdividido em pequenos grupos onde serão discutidos os temas e posteriormente, as conclusões, levadas ao grupo maior), b) pequenos grupos onde são tratados temas específicos, sugeridos pelos pais ou pela escola e c) grupos de pais e professores, eventualmente alunos, reunidos para discutir temas da comunidade escolar.

“Uma experiência interessante é a utilização de pequenos “esquetes”, escritos pelos próprios alunos e/ou professores, sobre temas de interesse levantados pelos pais. Esses esquetes são apresentados pelos alunos e, depois, são discutidos entre os pais com a coordenação de um orientador (ou profissional da área convidado). O teatro produz um impacto mobilizador entre os participantes que é muito produtivo.” (OSÓRIO e ZIMERMAN p. 371)

CONCLUSÃO

Sobre a síntese do trabalho grupal, podemos entender que: no grupo, “unidade formada por partes” normalmente toma-se a manifestação de um dos membros como sendo de todo o grupo; a integração grupal permite o surgimento de ansiedades e fantasias, que poderão delinear os mecanismos de defesa daquele grupo a ser trabalhado, proporcionando o entendimento do funcionamento integrado do mesmo;

“as ansiedades predominantes serão do tipo confusional, paranóica e depressiva e os mecanismos de defesa mais observáveis (relacionados às fantasias e ansiedades anteriormente descritas) são, principalmente, a cisão, a identificação, a identificação projetiva e introjetiva e os mecanismos maníacos de reparação (Segal, 1964; Winnicott, 1935).” (OSÓRIO e ZIMERMAN p. 372)

Estes processos de funcionamento grupal é que determinarão o surgimento dos papéis dentro do grupo e:

“O grupo tenderá a funcionar de uma maneira alternada entre o grupo de trabalho e os supostos básicos de funcionamento grupal, tal como descritos por Bion (1961), como grupo de dependência, grupo de acasalamento e grupo de luta e fuga.” (OSÓRIO e ZIMERMAN p. 372)

O autor deixa os referenciais teóricos e clínicos que lhe foram úteis e, julga como pedra fundamental de um bom início no trabalho com grupos. São eles:

Os livros; Totem e Tabu e Psicologia de Grupo e Análise do Ego de Sigmund Freud, Experiências com Grupos de Bion, Estudos Sobre Psicologia Analítica de Grupo e Fundamentos Básicos das Grupoterapias de David Zimerman, Grupoterapia Hoje de Luiz Carlos Osório e colaboradores. Os trabalhos: Os Sistemas Sociais Como Defesa Contra as Ansiedades Persecutória e Depressiva de Elliott Jaques e O Funcionamento dos Sistemas Sociais Como Defesa Contra a Ansiedade de Isabel Menizies.