Muitos de nós conhecemos a forma de o nosso cérebro captar as informações do meio ambiente para o seu interior, a fim de criar e manter a nossa extraordinária vida mental. É por meio dos cinco sentidos: visão, audição, gustação, olfação e tato, que logramos conhecer o nosso mundo exterior e as condições internas do nosso organismo. Deste modo, o sentido da vida animal, principalmente dos humanos, depende das informações que colhemos,armazenamos e conservamos dentro do cérebro; ainda que, no começo da nossa vida, alguns desses conhecimentos e comportamentos são geneticamente adquiridos; como: o automatismo de certos reflexos infantis.
Esta é a forma convencional de o cérebro receber os dados do mundo externo e usá-los da melhor forma possível para adequar à vida o seu portador. Essas informações do meio externo, captadas pelos órgãos dos sentidos, são canalizadas para o sistema nervoso central, em forma de impulsos eletroquímicos, codificados de acordo com as características peculiares de cada estímulo. Chegando ao cérebro, esses impulsos são decodificados e armazenados em locais geneticamente programados, ainda não inteiramente conhecidos; embora já se tenha evidências capazes de logo conhecermos melhor, as formas de gravarmos e retermos os traços de memória, de criarmos os pensamentos, elaborarmos as idéias, etc. Quando isto acontecer,creio que ficará mais esclarecido o mistério que cerca a mente e, por certo, a fronteira entre o físico e o mental tornar-se-á mais tênua. Desta maneira, é fácil de se ver que o viver inadequado, individual ou social, é conseqüência de um cérebro com pouco conhecimento, escassa cultura e reduzido saber, gravados em seus neurônios e, conseqüentemente, sem condições de criar uma Mente rica, sadia, positiva e útil a si e aos demais.
As exceções dessa pobreza mental que leva a uma vida inadequada e infeliz ficam por conta das deficiências cerebrais genéticas, congênitas, adquiridas ou traumáticas. Mas, é provável que o cérebro possua outras formas de captar os estímulos ambientais, além dos cinco sentidos já conhecidos e citados. Há muito se especula sobre a possível existência de outros modos de recebermos informações do meio ambiente. Um “Sexto Sentido” vem sendo imaginado por alguns, principalmente por escritores de ficção. Muitas pesquisas foram realizadas a fim de se comprovar a veracidade dessa hipótese, especialmente por estudiosos da Parapsicologia, ramo do conhecimento que se dedica aos fenômenos considerados, ainda, extraordinários. Mas, não é somente a Parapsicologia que estuda tão intrigante assunto. A “Ciência Oficial”, principalmente a Psicologia, vem envidando esforços nesse sentido e os relatos Psicobiológicos sobre as percepções “paranormais” têm se acumulado nos últimos anos.
Em pesquisas mais recentes, as evidências de novas fronteiras perceptivas estão sendo consideradas sob o rigor físico experimental. Nos EUA, há poucos anos, os fenômenos relacionados com o “Estado de Morte Aparente” (EMA), têm sido estudados com muito interesse por pesquisadores da Psicologia e da Medicina, encontrando-se alguns indícios sólidos de que possuímos a capacidade de captarmos e pressentirmos acontecimentos do meio físico, além dos cinco modos naturais que conhecemos. Ouvindo históricos de uma dezena de pessoas, verificamos que o fenômeno da “percepção extra-sensorial” encontra-se mais presente em Mães, nos acontecimentos relacionados com filhos ausentes, doentes, atravessando dificuldades ou passando por perigos iminentes. Este sentimento, condição e pressentimentos maternos, devem-se à grande ligação física, emocional e mental existente, por ter sido ele, o fruto do seu ventre. Embora essa capacidade perceptiva seja mais natural e evidente na mente materna; ela, também está presente, em menor intensidade, nos pais, amigos, parentes e nos verdadeiros amantes, naqueles onde o Amor autêntico reside, de fato. A percepção extra-sensorial ou o sexto sentido é quase exclusivo nas mulheres, pelo motivo óbvio de que somente elas são capazes de gerar filhos (embora, não irá nos assustar se brevemente, alguns homens se engravidarem). Se, de fato, temos mais essa capacidade perceptiva, pouco ou nada explorada nas condições normais da nossa vida; então, descortina-se um rico potencial de novos conhecimentos ...e poderes.
Exercitar e poder usar novas percepções sensoriais, fazem-nos acenar com uma imensa possibilidade de melhorarmos os relacionamentos sociais e inúmeros outros benefícios práticos. A “extra-sensibilidade” tem sido verificada com maior intensidade nos estados alterados da consciência, como por exemplo, no “estado de coma”. Alguns históricos de fatos desta natureza foram relatados por profissionais que atuam no campo cirúrgico,quando os pacientes estiveram em coma, ou foram declarados, clinicamente mortos. Esses pacientes, ao “ressuscitarem”, fizeram declarações posteriores sobre o que lhes tinham acontecido durante o tempo em que estavam inconscientes, naqueles momentos mais dramáticos de suas existências. Suas estórias guardam evidentes semelhanças entre si; e são impressionantes no que tange a fatos ainda pouco conhecidos pela Ciência; bem como, pelo mistério que sempre envolveu esses estados de “ausência” e de obnubilação da consciência. As obras escritas sobre o EMA (Estado de Morte Aparente) provocaram grande polêmica nos meios científicos e leigos. De modo geral, há muita descrença entre os primeiros, porque as conclusões dos autores daquelas obras apoiaram-se em relatos obtidos dos próprios pacientes. Estes poderiam ter feito suas narrações de acordo com as suas crenças, religião e expectativas de vida e de morte. As estórias desses pacientes que relatavam, dentre outras coisas, o encontro com os seus entes queridos já falecidos; poderiam ser apenas, a manifestação alucinatória do grande desejo deles de reverem aqueles que tanto amaram (e amam).
Quem não gostaria de ter, novamente, em sua companhia, as pessoas que nos foram tão caras e amadas, como os nossos pais, irmãos, esposos e os amigos verdadeiros? O cérebro, nos momentos extremos da vida e em situações fisiológicas graves, pode tornar accessível à mente, o seu vasto estoque de memória, proporcionando a ela a criação instantânea de imagens, sons, odores e outras percepções anteriormente assimiladas. Além disto, as secreções de substâncias químicas especiais pelos neurônios em agonia podem parecer factíveis as manifestações vívidas de seus anseios afetivos mais acalentados. Mas isso, o cérebro e a mente já fazem! Existe comprovação científica desses fatores neuropsicológicos. Entretanto, um caso relatado por um desses doentes críticos, acompanhado por pesquisadores meticulosos, deu margem a outros debates sobre uma provável “percepção extra-sensorial”. Nesse relato, o paciente ao retornar de sua “morte”, contou que havia estado com os seus parentes falecidos e, entre eles, estava um irmão seu, até então vivo e com saúde, antes daquele paciente ser internado no hospital. Acontece que, enquanto ele estava inconsciente,em estado de coma, o irmão falecia em um acidente de trânsito. O paciente não soubera de maneira alguma que o irmão havia morrido naqueles dias. Se ele não foi informado da morte do irmão, não poderia ter qualquer gravação em seu cérebro, relacionada ao acidente que o vitimou, enquanto ele estava hospitalizado e em coma. Como não tinha qualquer informação e gravação do fato, como poderia a sua mente criar uma fantasia, como argumentaram alguns, sobre um acontecimento que nem de leve passara por seu “estoque” de memória?
Isso deu muito que falar; pois é evidente que ninguém pode pensar, raciocinar, fantasiar ou mesmo sonhar com acontecimentos cujos traços não passaram pelo SNC (Sistema Nervoso Central), principalmente fatos dessa natureza! O paciente em foco comunicara-se com o irmão (ou este com ele; ou ambos) por vias sensoriais ainda desconhecidas por nós, evidenciadas em situações especiais da nossa existência. Por tais razões, é importante termos o máximo de cuidado quando estivermos na presença de alguém em circunstâncias semelhantes. Todos aqueles profissionais que cuidam de doentes terminais ou que estejam inconscientes, devem observar, criteriosamente, o que dizem e fazem diante deles, pois, podem estar captando o comportamento dos que lhe estão ao redor. Mesmo quando uma pessoa encontra-se desmaiada ou simplesmente dormindo; provavelmente terá alguma via sensorial de “plantão”, aberta para o mundo que a cerca; inclusive para a sua proteção; veja o resultado ao picar ou queimar, de leve, alguém que dorme!
Pessoalmente, acompanhei três casos que corroboram o enunciado deste Trabalho e reforçam os milhares de experimentos de outros pesquisadores mais afamados, na área da Neuropsicologia. Nos três casos observados, ouvimos os relatos dos seus protagonistas que passaram pela situação crítica de terem sido, clinicamente, considerados mortos. Eles recobraram a consciência, depois de demorado estado de inconsciência, em coma profundo. O que nos contaram coincidiu não só entre si; mas também, com os relatos de milhares de outros pacientes que passaram por situação idêntica. Os três nos narraram que ouviam e viam o que médicos, enfermeiros e outros que estavam na sala, discutiam sobre os seus estados de saúde e tinham uma razoável apercepção dos acontecimentos que se desenrolavam ao seu redor. Contaram, ainda, que se entristeceram quando os atendentes não lhes davam atenção e, principalmente, quando aqueles falavam de assuntos frívolos,piadas e outros impropérios, alheios aos seus sofrimentos e angústias, diante de seus corpos inertes. Como exemplos reclamaram (sem poder ser ouvidos) quando os seus atendentes os tratavam com descuido, apressadamente, a fim de se “livrarem” deles para cuidarem de seus interesses particulares; discutiam sobre futebol, novelas e banalidades diversas. Um desses pacientes que analisamos, contou-nos que ficara extremamente angustiado ao ouvir os médicos darem-no como desenganado e se apavorou com a idéia de ser enterrado vivo. Ouviram comentários negativos de familiares e visitantes que diante de seus corpos, falaram da gravidade dos seus estados de saúde e alguns outros comentários que jamais deviam ser falados ao leito de um moribundo.
Este Trabalho foi realizado com a intenção que vai além da individualidade. Aos pais, principalmente às mães e seus filhos, seria aconselhável que dessem ouvidos aos seus pressentimentos, evitando determinadas atitudes, viagens, divertimentos, esportes radicais, etc., quando mal pressagiados! O mais importante, entretanto, é alertar aqueles que assistem ou estejam diante de pessoas nessas circunstâncias extremas da vida. Médicos, Enfermeiros, psicólogos, atendentes, parentes, amigos e visitas devem se abstiver de fazerem quaisquer comentários que não sejam otimistas para o enfermo, mantendo-se numa conduta respeitosa e de esperança na sua recuperação; mesmo que ele tenha sido desenganado, e mesmo, tido como morto. Comportar-se assim, é, antes de tudo, uma obrigação ética, um dever cristão e de humanidade.
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Belo Horizonte, verão de 1989;
Ouro Preto, verão de 2011.
CARLEIAL. Bernardino Mendonça.
Psicólogo-Clínico pela Universidade Católica de Minas Gerais;
Estudante de Direito da Universidade Estácio de Sá;
Escritor e Pesquisador nas áreas da Psicobiologia e do Direito.