Sergipe e a Cocaína de Don Pepe

- Tem certeza que eso camino é confiável, hombre? Quien toma precauciones, evita riesgos...

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- Confiable demasiado! Já andei muchas veces por acá, sem ser importunado por ninguna policia, nadie. La mayor preocupación de las autoridad del gobierno ahora es com o carnaval e adelante com as elecciones generales do final do año.

- Tudo bien! Vá lá... todavía no mí gusta este cabrón mandando por Don Pepe.
- Crea, Don Pepe sabe o que hace. Esse brasileño conoce mejor que nosotros la ruta y las carreteras vecinales dentro de Sergipe. Pode ponerse tranquilo.

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- Vá lá...

Este diálogo, em bom portunhol, transcorria logo no início da noite, enquanto Hector e Miguel atravessavam a ponte que liga Barra dos Coqueiros a Aracaju. Miguel dirigia a camionete cinza, adaptada para transportar cinqüenta quilos de cocaína por vez. Já haviam passado por vários estados, sempre evitando as estradas principais. Era a última remessa do contrato de duzentos quilos para compradores em Salvador. Foram direto para um hotel.

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Na manhã seguinte, já no apartamento alugado por Miguel desde a primeira viagem, encontraram com Gilmar, o brasileiro indicado por Don Pepe, para ultimar os preparativos da parte final da viagem. A partir dali o comando da operação era dele:

- Deixa comigo, que está tudo certo. Agora pela manhã vamos levar o bagulho que vocês trouxeram para casa dum “chegado” na beira do Rio Vaza Barris e de lá pegamos a lancha e...

- Donde es? Río? Ninguno hay hablado en embarcaciones... Miguel, que passa?

Antes que Miguel pudesse responder, Gilmar atacou:

- Como é que é?! Quem é esse tal de “minguno” para estar se metendo no meu negócio? Não estou gostando dessa história não... fala brasileiro, rapaz! O que é que você está falando? O que foi que ele disse? – Gilmar começava a se perder...

Miguel, mais sereno dos três, mesmo abismado com aquela súbita mudança de rota (eles pretendiam seguir por rodovia até o ponto combinado), puxa Hector a um canto e procura acalmá-lo. Após intensa confabulação, resolveram ouvir os planos de Gilmar.

- O negócio é o seguinte: - começou Gilmar inchado feito um cururu e mais arrogante que um general – já providenciei uma lancha potente e o combustível necessário para nos levar ao ponto de encontro. Vamos arrumar tudo dentro dela e zarpar amanhã bem cedo para Salvador.

Deu uma longa pausa e completou: E não me falem mais neste “minguno”. Já me enchi desse cara!

Tudo assim. Sem planejamento, sem tábua de maré, sem traçar rota, sem nada.

A essa altura os gringos nem desconfiavam que Gilmar não soubesse nada de rio, barco, maré, caminhos marítimos e muito menos como chegar a Salvador por terra, que dirá por mar. Ele entrou nesse esquema só para faturar uns trocados. Tudo arrumado através do pistolão de um deputado “chegado”, a quem Don Pepe devia um favor.

Acalmado os ânimos, puseram mãos à obra. Fizeram quatro viagens na camionete para levar a cocaína até a casa na beirada do rio. Foi aquele vai e vem o dia inteiro. E Gilmar só dando ordens, feito capataz de engenho.

À noite, ainda sob sua direção, acondicionaram toda carga na embarcação para saírem na alvorada do dia seguinte como combinado. Quando terminaram, Hector reparou que a amarração da carga parecia mais o embrulho dum coco com uma colher de pau, misturado com um velocípede. Mas não quis arengar de novo. O importante era chegar. Vá lá...

O resto da história você já sabe. Deu nos principais jornais do Estado.

Don Pepe cortou relações com o deputado e está procurando seu pupilo para um acerto de contas. Quem tiver alguma informação sobre o paradeiro dele será bem recompensado pelo pessoal do Cartel.

Ah, tem gente que jura que Gilmar trabalha para a CIA.