INTRODUÇÃO
O movimento filosófico existencialista surge na Europa logo a pós a segunda Guerra Mundial, diante de um contexto onde as mazelas abertas pelo conflito ainda inflamavam a população. A vivência aterradora da guerra causou um ambiente de crise generalizada em todos os âmbitos sociais, que incidiu particularmente na juventude deixando-os descrentes dos valores burgueses tradicionais e da capacidade do homem para solucionar racionalmente as contradições da sociedade. Aderem-se então às teses existencialistas que justamente esclareciam o momento histórico do pós-guerra em que viviam. Porém:
“Se quiséssemos, por conseguinte, estudar essa corrente desde suas mais remotas origens, descrevendo-lhe a evolução ao longo do tempo, acabaríamos por recapitular toda a história da filosofia” (da PENHA, João. O Que é Existencialismo. 2000. p. 12).
Quem primeiro se preocupou em analisar o fato da existência humana foram os gregos, o que está sugerido, por exemplo, no conselho socrático: “conhece-te a ti mesmo” ou ainda na afirmação aristotélica: “a filosofia é a ciência do existente enquanto existe”.
Entretanto, a precurssão do Existencialismo moderno, por assim dizer, é atribuída à meditação religiosa de Sören Kierkegaard, um dinamarquês que viveu no século XIX, obcecado pelo pecado. A partir de sua doutrina, os filósofos existencialistas posteriores extraíram os temas básicos para a sua reflexão.
Em realidade, foram muitos os pensadores existencialistas que figuraram na história, (entre eles Husserl, criador da metodologia analítica utilizada na investigação dos temas kierkeggaardianos, Sartre, Heidegger, entre outros) refletindo acerca dos sabores e dissabores inerentes ao existir humano. Temas como: angústia, morte, liberdade, autenticidade, etc; são de total interesse do pensamento existencialista e, cada filósofo dá sua contribuição sobre esses temas no decorrer da história.
A proposta deste breve trabalho é acolher um desses temas, de acordo com o pensamento exposto por vários autores através da história e, num resumo, explicitar seus principais pontos a fim de formular uma raza, porém essencial compreensão do mesmo.
A ANGÚSTIA
“Equivocado seria, falar de angústia sem tocar em outros temas existenciais”.
Para Sartre a angústia é o sentimento mais importante, a ponto de chegar a declarar que o homem é angústia. Ele faz uma distinção entre a angústia e o medo; diz que o medo aparece diante de um risco específico ou dano que a realidade lhe possa infligir; a angústia, não surge como fenômeno afetivo por uma razão específica ou por qualquer objeto externo; é o medo de si mesmo, das nossas decisões, das conseqüências de nossas decisões. É a emoção ou sentimento que vem com a consciência de liberdade: ao perceber a nossa liberdade, nos damos conta que o que somos e o que seremos depende de nós; que somos responsáveis por nós mesmos e não temos desculpas ou refúgios a essa condição; a angústia parece ser uma expectativa ansiosa da responsabilidade que temos por nossa própria existência.
Também é importante lembrar que para Sartre a consciência da responsabilidade aumenta quando percebemos que a nossa escolha não diz apenas respeito a um âmbito puramente individual: tudo o que fazemos tem uma dimensão social, na escolha de um projeto de vida estamos escolhendo um modelo da humanidade, não se pode escolher um modo de vida que aplique-se única e exclusivamente a um indivíduo. Ao escolher, Sartre diz que, nos tornamos legisladores, e que devemos sempre refletir: “por minha ação suponho que todo homem deveria fazer isso, tem o direito, cada homem, de agir assim?” Sartre diz que no sentimento de angústia, todas as pessoas têm responsabilidades. Pode parecer que a angústia, o medo antes da eleição de uma possibilidade, possa levar a apatia ou inércia, mas, diz Sartre, isso não é verdade, ao contrário: “a angústia é uma expressão ou condição da ação”. A angústia no homem, não aparece apenas em casos de decisões extremas, mas quando examinamos nossa consciência e vemos que sentimos angústia a cada instante.
“Do ponto de vista do existencialismo, o homem não está sob influência daquilo que é externo a ele; na verdade, ele se compõe juntamente a esse externo, misturando-se com ele. (...) O homem existe não apenas em sua relação corpórea ou pelo lugar que ocupa no espaço. O homem existe em sua relação a sua condição de ser-no-mundo” (ANGIRAME, Valdemar Augusto. 2007. Psicoterapia Existencial. p. 25).
Também para Heidegger, a angústia não é um sentimento negativo; é sim, uma espécie de conseqüência enriquecedora para o indivíduo que toma consciência de sua condição humana.
“Somos lançados no mundo, proclama Heidegger. O nosso ser no mundo é um ser lançado. Nada há de místico ou metafórico nessa preposição. É uma banalidade primordial que a especulação metafísica ignorou. O mundo em que somos lançados sem escolha pessoal e sem conhecimento prévio estava aí diante de nós e estará aí depois de nós.” (ANGIRAME, Valdemar Augusto. 2007. Psicoterapia Existencial. p.43).
Como foi dito anteriormente, a expectativa ansiosa, que parece caracterizar a angústia, está numa relação intrínseca com o que se refere à citação acima. A consciência de finitude inerente ao existir humano em contraposição ao ser objetivo, em outras palavras, as incertezas quanto à morte acabam por ser, também, fonte de angústia com posição de destaque nos dilemas existenciais. Sendo a morte, para alguns autores, a condição determinante para o surgimento da angústia e tendo caráter inalienável, faz dela, de certa forma, uma experiência solitária.
“Segundo os existencialistas, desde que só Deus poderia dar sentido ao ser, e desde que Deus não existe, o ser é absolutamente sem sentido, a incomensurabilidade radical entre deus e o homem torna impossível para nós sequer imaginar qual seja esse sentido” (ANGIRAME, Valdemar Augusto. 2007. Psicoterapia Existencial. p.45).
“A angústia seria, assim, o objeto primário de sofrimento da própria existência ou ainda a particularidade ou individualidade da condição humana” (ANGIRAME, Valdemar Augusto. 2007. Psicoterapia Existencial. p.44).
Para aqueles que ainda hoje ao pensarem nos preceitos filosóficos existenciais, o associem a temas depressivos, a angústia nos ensina um belo antagonismo ao revelar, digamos, seu lado positivo, entendido pelos existencialistas da seguinte forma: se é para nós, impossível penetrar na essência do ser; se não existem seres eternos e imutáveis, parece óbvio então, que as próprias realizações da mente humana se tornem a fonte do sentido para a existência.
CONCLUSÃO
A plenitude do existir, para nós, parece ganhar o status de inalcançável, a partir de meras confabulações produzidas do resultado de uma quantidade limitada e distorcida de informações percebidas pela mente humana. O que parece inatingível pela realização do homem, entretanto, como numa grande e jocosa piada cósmica, é indissolúvel da própria condição do existir consciente; condição esta que não podemos recusar ou negar, já que estamos inseridos em um aqui - agora factual, inegável, porém incompreensível.
Para que uma concepção global e essencial do existir pudesse ser formulada, a fim de atenuar as agruras que o mundo causa à consciência, seria primordial apreender todas as informações essenciais de todos os elementos existentes no aqui - agora, bem como no antes, no depois e em todos os lugares. Obviamente, tal devaneio é ridículo, posto que a condição finita do ser humano o mantém aprisionado em um mundo de dúvidas e incertezas no que concerne á sua origem, sua função e seu fim.
Como diria o poeta: “é chato chegar a um objetivo num instante”. Resta-nos, então, continuar, mesmo que em muitas ou todas às vezes por caminhos errôneos, a inventar para nós mesmos, sentidos para a consciência viva que temos do mundo, o fato de existir e ter consciência disso, por mais esdrúxulas que as representações que produzimos pareçam, é algo que deve ser encarado como poético por nós, pois, ao menos, dentro dessa condição tão limitada e sujeitada que temos e somos, tomamos partido de que existimos em algum lugar.
REFERÊNCIAS
· ANGIRAME, Valdemar Augusto. Psicoterapia Existencial. 4 ed. São Paulo: Thonson Learning Brasil. 2007.
· da PENHA, João. O Que é Existencialismo. São Paulo: Editora Brasiliense, 2007.
· PESSANHA, José. Os pensadores. 3 ed. São Paulo : Nova Cultural, 1987.
CIVITA, Victor. Os pensadores. 1 ed. São Paulo : Abril Cultural,