Certos fatos contribuem para a teoria conspiratória de que o fim do mundo deve estar próximo mesmo…recentemente o portal Terra publicou uma matéria sobre os 10 sutiãs mais caros da Victoria’s Secret obviamente expostos nos corpos das modelos de salários igualmente mais caros do globo. Os preços variam de 3 a 15 milhões de dólares (este último emoldura, na reportagem, o corpo escultural da brasileira Gisele Bündchen) dependendo da fortuna e disposição das poucas clientes que podem se dar a esse mega extra luxo. A ironia fica por conta desta peça do vestuário feminino ter sido, há algumas décadas, um ícone da resistência feminista. No dia 07 de setembro de 1968, Jordi Ford foi pivô de um episódio que literalmente nunca ocorreu – a queima de sutiãs em praça pública - como protesto contra a ditadura da beleza feminina imposta às mulheres da época. Jordi recebia o cobiçado prêmio de miss America na cidade de Atlantic City enquanto uma legião de mulheres de vários estados norte-americanos se aglomerava em frente ao teatro bradando lemas de protesto e empunhando símbolos de feminilidade – cílios postiços, revistas femininas,sapatos de salto alto, detergentes e claro, sutiãs. Os “nefastos” objetos seriam queimados numa lata de lixo improvisada onde se esperava incendiar também o estereótipo “burro-peitudo-feminino” ditado pela sociedade machista. A queima de fato não ocorreu,pois a prefeitura não autorizou o uso do fogo, mas a força da imagem perpetuou-se por gerações como um ícone dos valores feministas.
Não pretendo desmerecer as inegáveis conquistas das mulheres nas últimas décadas, mas em tempos de mulher-fruta, mulher objeto e tantas outras distorções contemporâneas da feminilidade, não deixa de chamar a atenção fatos como este noticiado pelo Terra,no qual um símbolo de luta das mulheres contra a servidão e o preconceito esteja a serviço do consumismo desenfreado que amplifica as diferenças sociais gritantes desta triste era contemporânea. Apenas para refletirmos.
Você queimaria um sutiã de 15 milhões de dólares?
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