O Homem Vazio

Nenhuma promessa eterna para cumprir
Nenhuma rosa branca para lhe alegrar
Nenhum forte abraço para lhe abrigar
Não há uivo noturno que o faça aquecer
Ele não consegue esquecer... Como fez ou deixou de fazer
Mas nada importa, pois ele agora é o Homem Vazio
Que anda pelas ruas sem ser percebido
Até mesmo os que o reconhecem, fingem não tê-lo avistado

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O homem vazio não quer nada, pois também não pode nada
Nenhum lindo sorriso o fará alegrar
Pois ele perdeu-se de si mesmo
Seu futuro o condena, pois seu presente é instável
Assim como sua mente... Ele sabe que não pode vencer
Pois a vitória há muito lhe foi negada, assim como sua vontade se esvaeceu
Ele fala... Mas todos sabem ser incapaz de fazê-lo
Sua superação não passa de um mero desejo

Pobre do homem que não reconhece sua própria face no espelho
Amedrontado e afugentado de sua própria realidade traíra
Através de seu olhar, podemos ver que tudo em seu mundo está perdido
Mas ele teima em ser forte, mesmo com o que ainda está bem além do seu alcance
O homem vazio não sabe saber e nem se constitui de amor ou ódio
Mas sim, de uma leve tendência a destruição
A angústia em seu peito lhe impede de viver livre
Ele lamenta por não ser quem queria, pois sabe que o que é, não é quem devia

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O homem que nada sente também nada é
E não espera seja o que for de quem quer que seja
Nada teme. Nem ao perigo, pois nada lhe resta
E à luz de sua própria ruína, tudo lhe parece festa
Estagnou-se em seu próprio paradoxo. Encontra-se preso no vício do prazer que o liberta da dor de ser e não viver
Ele sabe que com a chegada da morte ao ‘’antigo eu’’ virá talvez, a libertação
Mas também não sabe se virá mesmo, ou se é apenas outra ilusão
O amor que lhe escapou, mas jurou voltar
Nunca mais ouviu falar... E nem deu as caras lá por onde ele está

O seu maior anseio é desprender-se de seu estado caótico
Que não lhe deixa voar além do seu Sol fantasiado
E suas criações que não passam de meras extensões de sua dor
Ele sabe que é o único culpado... Pela sua vida desgovernada, pela sua natureza errônea e desenfreada
E ninguém há de enxergá-lo de verdade, nem de ajudá-lo ou sequer notá-lo
Pois o homem vazio caminha para se tornar parte do completo nada. Até que nem mesmo sua aterradora solidão nem mesmo seu descaso com a luta, possam afetá-lo de maneira alguma.

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Ele caminha não para chegar a algum lugar, mas para finalmente desfazer-se de si mesmo
Pois sabe, que sem amor não somos nada.
E para o nada ele caminha, orgulhoso de sua decisão.

Luan Conde Vinhaes.