Meio ambiente por inteiro
A natureza Ć© o Ćŗnico livro que oferece um conteĆŗdo valioso em todas as suas folhas
Johann Goethe
Meio ambiente Ć© o conjunto de forƧas e condiƧƵes que afetam diretamente o metabolismo ou o comportamento dos seres vivos e das espĆ©cies em geral. Ć formado por fatores abióticos, como clima, luz, ar, Ć”gua, solo e energia; por fatores bióticos, como a flora e a fauna; e pela cultura humana e seus paradigmas ā valores filosóficos, polĆticos, morais, cientĆficos, artĆsticos, sociais, econĆ“micos, religiosos, o modo de vida em sociedade e a educação. A constante interação evolucionĆ”ria desses fatores forma o meio ambiente, que em equilĆbrio traz a felicidade por inteiro aos seus usuĆ”rios.
O tempo cosmológico Ć© diverso do tempo humano, pois Ć© medido em bilhƵes de anos. A vida iniciou sua saga terrestre hĆ” 3,6 bilhƵes de anos, mas os humanos só surgiram nesse embate no Ćŗltimo segundo da prorrogação, hĆ” 200 mil anos atrĆ”s. A agricultura tem apenas 7 mil anos e a civilização 11 mil anos, a saber, a Terra nos ignora e se restaura no seu tempo de milhƵes de anos. A espĆ©cie humana Ć© que precisa de auxĆlio ā vive cerca de 80 anos, mas deixa um rastro de impactos ambientais que podem decretar sua precoce extinção, como jĆ” ocorreu com 99 % das espĆ©cies que por aqui passaram.Ā HĆ” um conjunto de agressƵes ecossistĆŖmicas globais que afeta a capacidade do planeta em oferecer de forma equilibrada serviƧos como clima, hidrologia, energia, uso de solo e biodiversidade.
O aumento populacional exponencial e o grande consumo de energia após a Revolução Industrial, mormente nos paĆses desenvolvidos, provocaram agressƵes antropogĆŖnicas ao meio ambiente que, em contrapartida Ć s mudanƧas naturais, ocorreram em pouco tempo, em dĆ©cadas, e deixaram muitas sequelas. A capacidade de absorção de agressƵes ambientais do planeta, quando ultrapassada, provoca grandes catĆ”strofes. Ć difĆcil conhecer com precisĆ£o os limites dessa capacidade, dada a complexidade de variĆ”veis envolvidas. Faz-se necessĆ”rio, entĆ£o, adotar uma postura de precaução que poupe os recursos naturais, por meio de taxação e cotas de externalidades negativas como a emissĆ£o de gases de efeito estufa, somados a legislação protecionista de recursos ambientais.
O planeta Terra tem todas as caracterĆsticas de um ser vivo, exceto o fato de nĆ£o se reproduzir. As florestas e os oceanos funcionam como os pulmƵes do planeta, inalam dióxido de carbono e exalam oxigĆŖnio, que atua como o sangue do sistema Terra. A superfĆcie terrestre Ć© como uma pele humana, uma camada pouco espessa, porĆ©m essencial. Essa pele parece ser fina e frĆ”gil, mas protege o planeta por ela coberto. Em analogia com a pele humana, Ć© tambĆ©m o maior órgĆ£o do sistema terrestre e desempenha complexas funƧƵes de proteção, ao interagir com a atmosfera volĆ”til e com a terra que envolve. A Ć”gua Ć© o ciclo hidrológico da vida humana e terrestre e existe na mesma proporção nos dois corpos. Esses itens vitais Ć vida estĆ£o doentes e necessitam de intervenção para uma breve recuperação.
O economista Simon Kuznets, prĆŖmio Nobel de 1971, desenvolveu uma curva com āU invertidoā, denominada curva de Kuznets. Essa curva sugere que a desigualdade de renda aumenta na fase inicial da industrialização de um paĆs e diminui quando se alcanƧa o desenvolvimento. HĆ” uma derivação desse estudo feita por dois economistas da Universidade de Princeton nos Estados Unidos, que batizaram essa curva como ācurva ambiental de Kuznetsā. Afirmam entĆ£o que a poluição e os impactos ambientais evoluem durante os estĆ”gios iniciais do desenvolvimento de economias industriais, mas com a obtenção de certo nĆvel de renda, os danos ambientais se estabilizam e entram em declĆnio, ao mesmo tempo em que se implanta no seio da sociedade a racionalidade ambiental.
De fato, em alguns paĆses desenvolvidos houve uma redução nas emissƵes dos gases do efeito estufa por unidade de PIB, mas com o crescimento econĆ“mico dos paĆses emergentes essa conta inverteu-se por completo. Houve transferĆŖncia de produção, por exemplo, da moderna indĆŗstria norte-americana para a poluente indĆŗstria chinesa, Ainda nĆ£o se descobriu uma forma de produzir PIB sem impactos negativos ao meio ambiente.
A economia capitalista tem que ser includente, no sentido de aparar desigualdades e deixar de lado seu aspecto autorreferencial, sem preocupações fora de si, que não aceita interferências externas a não ser o que estÔ no cerne do capitalismo, qual seja, maximização de resultados e acumulação de riqueza. Durante o século XX houve enorme crescimento da riqueza mundial, mas também da desigualdade social e muitos economistas jÔ concordam que distribuir primeiro a renda e depois crescer é mais sustentÔvel que o inverso, ou seja, não se deve esperar o bolo crescer para depois distribuir seus pedaços, pois isso gera concentração de renda, desigualdade social e degradação ambiental.
A sustentabilidade ambiental Ć© um dos trĆŖs maiores desafios mundiais, juntamente com o subdesenvolvimento e a seguranƧa. A melhoria da qualidade do meio ambiente e a preservação das fontes de recursos energĆ©ticos e naturais para as próximas geraƧƵes Ć© obrigação de todos os habitantes do planeta. Em tempo de guerra, aceita-se sem questionar a mais severa das privaƧƵes e oferece-se prontamente atĆ© mesmo a vida em sacrifĆcio, mas parece que, diante desse problema tĆ£o sĆ©rio, a humanidade ainda vive em um mundo onĆrico. O planeta Terra estĆ” em desequilĆbrio ambiental, enfermo e com sua progĆŖnie comprometida. Ć medida que o ser humano emporcalha o ar e confunde ecossistemas naturais, o passivo ambiental só se faz aumentar.
Sustentabilidade ambiental significa a manutenção dos estoques da natureza, a garantia de sua reposição por processos naturais ou artificiais. Significa a busca pelo equilĆbrio, pela capacidade regenerativa da natureza ou, ainda, pela capacidade de suporte dos ecossistemas, de sua resiliĆŖncia.
Os caminhos que levaram civilizaƧƵes ao fracasso ou Ć ascensĆ£o e ao declĆnio estiveram vinculados Ć s mudanƧas climĆ”ticas, majoritariamente provocadas por aƧƵes humanas de devastação florestal, que provoca processos erosivos no solo, e pelo uso intensivo de recursos naturais, sem o necessĆ”rio tempo de restauração dos ecossistemas.
O ser humano possui a capacidade de racionalizar as questões, assimilÔ-las e, com a experiência anterior, encontrar soluções baseadas em observações próprias. Essas observações devem ser utilizadas para se construir toda uma sequência lógica, apta a superar uma determinada dificuldade, e transmitir a experiência adquirida para novas situações, formando uma cadeia de progresso que solidifica o grupo, tornando-o apto e forte para enfrentar novos desafios.
A sustentabilidade ambiental clama pela construção de novas regras, que estĆ£o lentamente tomando corpo por todo o mundo. Com a crescente conscientização ambiental, a sociedade organizada, de olho no passado, deve evitar seus erros e tomar as liƧƵes positivas como alicerces de convĆvio futuro, em busca da construção de uma sociedade sustentĆ”vel.
O Brasil tem enorme potencial ambiental para participar de forma ativa e em posição de destaque na batalha global contra as mudanƧas climĆ”ticas. Possui uma posição privilegiada entre os paĆses mais desenvolvidos do mundo e atingiu esse patamar sem emitir o montante de gases de efeito estufa dos paĆses desenvolvidos.
O crescimento econĆ“mico sustentĆ”vel em conjunto com o incremento da qualidade de vida de todos os habitantes do planeta, só Ć© possĆvel se comunidades cooperarem e participarem ativamente nas mudanƧas de atitude e valores. As humanos nunca foram globais, mas tribais, onde matar um semelhante desde que seja considerado āinimigo da triboā Ć© Ć©tico e Ć© a forma de pensar da espĆ©cie.
O desafio crucial que se impƵe, portanto, Ć© a superação dessa caracterĆstica tribal apocalĆptica, que permita construir uma sociedade verdadeiramente global. Formatar um novo paradigma ambiental, com o uso bem planejado e eficiente dos limitados recursos ambientais em favor da criação de uma sociedade sustentĆ”vel, caminho Ćŗnico para preservar a vida por inteiro.