Matemática, física, química e biologia: sem prática não há didática

Se seu filho ficar na recuperação no final do ano de matemática, física, química ou biologia, ou as quatro juntas: culpe a escola. Não é uma questão meramente da falta de abstração ou que seu filho herdou a sua deficiência de quando você era fraco no tempo de colegiado. A culpa é da escola mesmo.

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Ciência exige prática

Se eu não tenho laboratório e meios para se produzir ciência nos espaços escolares, é necessário extinguir essas matérias do currículo escolar. Pense comigo, o professor pode passar anos enrolando o seu aluno nas matérias de português, história, geografia, artes, filosofia, estudos sociais ou seja lá qual for. Mas em ciência não existe meio termo. É necessário laboratório. É necessário praticar o que se aprendeu.

A importância da aplicação prática

Pense bem, existem muitos conceitos que aparentemente são inaplicáveis ao cotidiano. E não é novidade que muitos estudantes se queixam o tempo todo da relação do que aprendem com o cotidiano. E não pense que isso seja desinteresse. Pelo contrário, isso externaliza muito interesse por detrás. Basta simplesmente o professor não enrolar o coitado do aluno com discursos de contextualização histórica ou dizer que certos cálculos mirabolantes aparecem do nada na cabeça dos matemáticos, físicos, químicos ou biólogos e pronto. O que precisa é de prática.

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É desumano forçar a mente no que ela não consegue visualizar. Fazer enxergar o que não se tem. Se não existe prática, não há como o aluno perceber com o professor e tão menos por si só. Se eu não conheço figuras com duas dimensões e não tenho contato direto com suas propriedades, dificilmente eu conseguirei entender as de três ou imaginar a possibilidade de existir figuras com quatro ou mais.

Uma vez praticando, tudo fica mais fácil. Ganha o professor porque não cansa teorizando o que está nos livros, as aulas se tornam mais dinâmicas e interessantes, os pais se interessarão automaticamente na medida em que o aluno irá levar o que aprendeu em sala para casa, e ganha o aluno ao se interessar ainda mais. Enfim, ganha a comunidade como um todo.

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O valor do aprendizado prático no dia a dia

Quem não se interessaria em saber como se produz um álcool 70 em seus lares? Quem não gostaria de entender quando o Dráuzio Varella fala no Fantástico que o sódio não apenas está contido no pozinho branco que coloca nos alimentos em casa, mas em alimentos doces também, e que seu pai, sua mãe ou tio cometem suicídio ao não saber disso? Quem não ficaria feliz em criar engenhocas dentro de casa, mexendo em circuitos ou entendendo o porquê da sua conta vir baixa ou alta? Contestar o IBGE, entender que equação os nossos governantes usam para subtrair do trabalhador ao invés de multiplicar a sua renda? Ou constatar a existência de outros planetas com características semelhantes à Terra? Ou você pensa que somos os únicos a habitar o espaço?

O custo da falta de prática

E o preço de tudo isso só vemos lá na frente. A contramão dessa falta de prática só nos faz compor uma cadeia nada agradável. É a moça do caixa não sabendo passar o troco sem usar calculadora, é consumidor pagando a mais por “mls” a menos, é o pedreiro que irá fugir da escola por achar desinteressante, desmoronando casas ou errando assentos e medições, é um povo que não contestará o motivo de presidentes indo ao segundo turno com votos em maioria em função de margens de erros antidemocráticas, são mestrandos pagando para fazerem análises estatísticas a técnicos, o país emperrado sem produzir e comprando do que vem de fora, pessoas sem conseguir abstrair cálculos matemáticos, físicos ou químicos.

Não culpe seu filho

Mas se você não está satisfeito com tudo isso, não esbofete seu filho quando ele ficar na final de matérias como matemática, física, química ou biologia. Não gaste dinheiro com reforço escolar, nem arrebente-o chamando de incompetente ou desinteressado.

Pense que nessa escola doida aí, teve pessoas que tiraram até dez na média dessas matérias sem nem saber como aplicar o que aprendeu. Portanto, tenha amor ao seu filho, seja consciente. Se você não quer ver o seu filho ser mais um brasileiro: lembre-se de começar culpando a escola.

Danillo Cerqueira Barbosa é estudante da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, professor e escritor. Texto escrito em 05/02/2010. E-mail: danillo1987@hotmail.com