O Que É O Inconsciente

CONSELHO BRASILEIRO DE PSICANÁLISE

ANÚNCIO

CBP ( I.N.N.G.)

ANÚNCIO

O QUE É O INCONSCIENTE

ANÚNCIO

l — Os falsos métodos da pedagogia corrente.

Os métodos atuais empregados pela pedagogia corrente não conseguem em absoluto a finalidade á que se propõem. Não sabemos, afinal de contas, por que ainda perduram no cartaz de todas as reformas do ensino.

A psicanálise, Ciência vasada na experiência prática, já demonstrou, de maneira categórica, que a educação e a instrução sexual são tão necessárias à vida da criança como o leite materno e todas as regras da dietética infantil.

Todos nós, nos primórdios da existência, somos regidos pelo código dos instintos. Os instintos constituem por si mesmos um organismo à medida que se orientam e se desenvolvem com a idade.

É um erro considerar-se um instinto em "si mesmo".

Oskar Pffister diz textualmente:

"Os instintos não são forças elementares isoladas sobre as quais se edifica a vida”.

Uma vida se diferencia em direções distintas. Abandona energias para "este" ou "aquele" fim, formando órgãos para desempenhar "tal" ou "qual" função. Os instintos não são realidades psíquicas independentes e primitivamente separadas, do mesmo modo que os braços, pernas, pulmões, coração, etc., que não são unidades isoladas, e que se reúnem para formar o corpo humano.

"Por isto, não é possível estudar-se uma função ou um grupo de funções desagregadas de suas relações para se denominar com o nome de instintos. É útil considerar-se, entretanto, unilateralmente as manifestações dirigidas num certo sentido vital, porém, sem esquecer que isto é uma abstração.

"A realidade desconhece os impulsos isolados dos instintos. Ela prescinde inteiramente das funções elementares. O instinto de nutrição está intimamente relacionado com os valores estéticos; o instinto sexual com os desejos de domínio; as pretensões de liberdade com a simpatia, etc.

"Os chamados instintos inferiores acham-se em estreita relação com os superiores. Uma função instintiva pode Substituir a outra."

Este trecho, incontestavelmente necessário, logo de início, vem endossado por Freud, dissipar a confusão que ainda existe de que a psicanálise é uma teoria puramente "sexual" procurando explicar "tudo" através da "libido". Ao contrário. O que a psicanálise diz é que não é possível compreender os processos psíquicos de maneira exclusivista. Isto é, admitir um campo instintivo restrito, sem considerar o indivíduo em conjunto.

Assim, se estudarmos os instintos, como um organismo, teremos de analisá-lo no seu "todo", perquirindo os seus segredos, esmiuçando lhe os menores detalhes, talqualmente o fazemos quando nos detemos diante de uma peça anatômica, ou dum corte histológico num microscópio.

Aí, certamente, ninguém vai pesquisar apenas "uma parte" da peça, ou do corte, o que, sem dúvida alguma, resultaria em conclusões falsas.

Quando os pais, ou os educadores, orientam as fontes instintivas da criança procedem à maneira de um esdrúxulo anatomista que pretendesse explicar uma artéria, por exemplo, sem investigar todas as suas ramificações e anastomoses, o que seria absurdo.

Destarte, quando a psicanálise, apresentou ao mundo científico a "sexualidade", como núcleo da sua doutrina, todos os moralistas da época atiraram-lhe em cima os anátemas mais tremendos e inimagináveis de um modo apriorístico e até mesmo ridículo.

Desfraldaram a bandeira da "moral" e sem o menor exame, ainda que superficial, recusaram "ingenuamente", "inocentemente", “os ensinamentos” “escandalosos" do freudismo.

Esquecem-se, entretanto, esses senhores, que a "culpa" não é do homem, do criador da "libido", mas sim da própria natureza que rege, com as suas leis imutáveis, todos os seres deste mundo.

Freud esgotou o assunto. Explicou, através da prática psicanalítica, em centenas de observações diretas, que a "sexualidade", capaz de ser oculta, escondida, esquecida, mesmo, dos métodos pedagógicos usuais é a causa primordial, a pedra angular, sobre a qual se edificam as almas covardes e, portanto indefesas para a luta desigual da vida.

Isto, porque a educação corrente mutila o organismo dos instintos, orientando (mais ou menos) todos os demais para esmagar, nas sombrias camadas do espirito, "aquilo" que se chama "sexual".

2 - Não se deve tomar a sexualidade ao pé da letra.

Convém por isso determos um pouco a nossa atenção sobre este ponto, embora por um instante, recapitulando aqui o que dissemos alhures:

Sexualidade, para Freud, não é tomada ao pé da letra como muita gente julga. Ela engloba, envolve uma série de outros valores vitais. "Sexual" aí não quer absolutamente dizer "Genital". Seria mesmo absurdo pensar-se, por exemplo, que o lactante possui "vida sexual" na latitude vulgar do termo.

O que Freud assegura é que o instinto sexual torna-se, por excelência, o reflexo vivo da luta incessante contra a morte. Ele é por isso o principal intuito que anima o espirito. Ele anima, move, desdobra e envolve os demais instintos para ser a razão mesma dos seres vivos! Nestas condições, não é possível reprimi-lo se ele é o dínamo, a força motriz do organismo instintivo. Que faz a educação corrente? Encobre-o, desde os primórdios da vida! Sábio, porém, como o instinto da fome e da sede, não podendo ter livre curso no encadeamento das ideias, frustrada a sua satisfação, ele envereda-se por impulso, ou por atalhos diversos, e manifesta-se, selvagem, na sua satisfação integral.

Daí, enquanto tantos outros instintos são educados pelas aspirações éticas do indivíduo, o "sexual" em estado bruto ou nativo, digamos assim, vai deixando por onde palmilha, os traços fatais, ou traumas anímicos que mais tarde a psicanálise descobre no "dinamismo silencioso e espiritual do homem". Com ele se desenvolve. Se não é orientado, educado convenientemente, certo cobrará do indivíduo, na idade madura, os juros mais onerosos dessa triste consequência. Pelo exposto, não poderia o instinto sexual deixar de manifestar-se aos primeiros albores da vida infantil.

Sexualidade, portanto, para Freud, é uma força pela qual se manifesta o instinto sexual. A esta força deu o mestre o nome de libido. Assim, nos primórdios da infância já aparecem as primeiras manifestações desta força, enlaçadas a outras funções vitais. Aí, porém, a sexualidade é difusa, generalizada, sem nenhuma ligação ainda com a esfera genital. É a sexualidade (propriamente dita) rudimentar, embrionária, sem localização anatômica específica (Auto-erotisrno de Havellock Ellis).

Muito cedo exaltam-se, entretanto, as zonas chamadas erógenas, zonas que provocam prazer e então vão elas atraindo as atividades da libido.

Como a zona labial é erógena, começa a libido a atuar aí enlaçada ao instinto vital da nutrição. O primeiro interesse da criança recai então sobre o seio materno. Ora, quando acaba o lactante de mamar, tem ele sempre uma disposição para começar de novo a absorção alimentar. Já aí não há fome. É claro. Há procura de prazer. Inquieta-se a criança. Chora. Não pode conciliar o sono. Dá-se lhe a celebérrima chupeta. O petiz adormece numa expressão de bem-estar. Não realiza ele atos de prazer? A esta fase chamou Jung de prazer em nutrição. Freud denominou-a fase oral da libido.

Já depois, nessa mesma fase, vai o lactante abandonando o seio materno por uma parte do próprio corpo, ou mesmo, chupando o dedo e a língua em busca do prazer, intensificando mais o estímulo da excitação.

Mais tarde começa a experimentar sensações várias com a eliminação da urina e das fezes. Ao chegar a esse ponto o mundo exterior se lhe depara hostil, uma vez que percebe que essas funções são indecentes e que, por isso, devem permanecer ocultas. É a fase anal sádica.

Depois destas duas fases, que se manifestam nos primeiros cinco anos da vida, surge o período de latência, no qual se inicia o trabalho da repressão dessas tendências, com o esquecimento de tais atos.

Um outro período vem substituir o primeiro. Como todas as partes não são igualmente erógenas, não demora muito que a criança comece a ir explorando outras regiões, encontrando enfim, o caminho dos órgãos genitais. É o que se chama "primado da zona genital", no qual a sexualidade, primitivamente difusa, orienta-se para a finalidade realizadora da procriação.

Acontece, porém, que antes desse período, há uma dança macabra de instintos que vão se manifestando por tendências parciais opostas de agressão, de crueldade ativa, etc. (sadismo), de crueldade passiva, de covardia, de tendência a entregar-se (masoquismo), de exibicionismo, de prazer de ver, etc., etc..

A parcialidade dessas tendências buscam violentamente o prazer, de onde a análise revela, mais tarde, os traços profundos deixados por essa época.

Vê-se que a libido tem que transpor vagarosamente todas as etapas do desenvolvimento sexual.

Vimos, em resumo, como o instinto sexual se manifesta, como se desenvolve, desde o nascimento da criança, ao contrário do que muita gente pensa, sincera ou hipocritamente. Autores há que negam até mesmo o instinto sexual na primeira infância, assegurando que ele só aparece muito mais tarde, com a puberdade, ou numa palavra: com a função fisiológica da procriação, porque insistem em, confundir os vocábulos "sexual" e "genital" como simplíssimos e meros sinônimos...

Foi justamente dissipando, de uma vez para sempre esse modo avesso de ver as coisas que a doutrina de Freud, penetrando mais e mais nos segredos biológicos da personalidade pôde, de maneira insofismável, provar que o instinto sexual goza das mesmas prerrogativas que o instinto da fome ou da sede.

Certamente uma criança de tenra idade só se alimenta de leite porque o seu estômago, ainda em estado rudimentar, não pode digerir outros alimentos que a própria idade vai sancionando, de acordo com o desenvolvimento do organismo. Nem por isso, entretanto o instinto da fome em si é inexistente. Ele aí está presente como presente está em todas as fases da vida. Para agir, porém, com o máximo de eficiência, dependerá do desenvolvimento dos órgãos, como a força dinâmica em um maquinismo tanto mais perfeito.

Assim também o instinto sexual. Em princípio ele apenas procura o prazer e só mais tarde se localiza por assim dizer nos órgãos que se destinam à reprodução.

3 — Educação e instrução sexual.

Já falamos de início, que a educação e a instrução sexual são tão necessárias à vida da criança como o leite materno a todas as regras da dietética infantil.

De fato. Em geral sabe-se que "tal" ou "qual" alimento é impróprio à idade "X", que a criança deve dormir "desta" ou "daquela" maneira, que expô-la a uma determinada corrente de ar "constipa", que se a deixar em uma cama sem grades é "perigoso", que "isto" e mais "aquilo" não se deve fazer porque "prejudica". Entretanto descuida-se inteiramente da forma educacional que se deve ter sempre em mente quando se tem sobre os ombros um garoto a criar. Por que?

Simplesmente porque não se cogita disto. É esta a resposta mais simples. Ou - repetindo J. B. Watson - "porque os pais desviam seus filhos por métodos antigos deixando transparecer como foram educados pelos seus próprios pais".

Entretanto - prossegue o eminente educador - "se tomarmos uma planta nova e a colocarmos perto de uma janela iluminada, ela se curvará na direção da luz. Conseguimos inclinar uma planta segundo a posição em que a colocamos. Se amarrarmos um peso aos brotos de um carvalho novo, eles se dobrarão e crescerão para baixo. Os pais desviam os filhos desde o nascimento e até aos nossos dias este processo perdura. Vem a propósito o velho provérbio: A árvore se inclina na direção do broto desviado. Desviais os vossos filhos diariamente e continuais este processo mesmo depois que vos deixam. Ainda que libertos de vossa influência imediata, ela exercerá sempre o efeito da direção que lhe destes, tornada tão arraigada nos seus costumes e pensamentos, que nada poderá removê-la, Na verdade criamos os nossos filhos à nossa imagem".

Vem ao encontro destas palavras a psicanálise. Ela vem, com a educação sexual, como um seguro método de profilaxia psíquica. Ela vem ainda como processo terapêutico remover os costumes e pensamentos que J. B. Watson acredita que sejam irremovíveis.

Pena é que o ilustre professor da Universidade John Hopkins não tenha até então voltado a sua atenção para os estudos da psicanálise, uma vez que lhe sobra intuição admirável para tais pesquisas. Watson chega mesmo a falar como um verdadeiro psicanalista se modificarmos apenas o seu jogo vocabular.

Como quer que seja, entretanto, suas considerações, resultantes de largo tirocínio de psicologia infantil, até mesmo em laboratórios experimentais, serão aqui como um raio de luz na sombra desses assuntos tão mal cuidados, infelizmente, entre nós.

Assim diz ele:

"Surge nesses últimos anos uma espécie de Renascença social, ou ensaio de alteração dos "costumes", análise minuciosa dos hábitos antigos que, sem dúvida, marcará uma época mais importante na história do que a Renascença científica iniciada por Bacon no século XV. Este despertar se evidencia nas mães que perguntam a si próprias: não serei a única responsável pele resultado da criação de meu filho? Será possível que nada seja hereditário e que, praticamente, todo o seu desenvolvimento só dependa de minha orientação? Quando pela primeira vez encara esses pensamentos, recalca-os como demasiado "horríveis". Seria fácil descarregar o peso sobre a hereditariedade, os ombros divinos ou quaisquer outros ombros que não fossem os seus! Uma vez aceita a ideia, e quando começa a cambalear sob o peso da cruz, imagina: Que farei? Se sou a responsável pelo destino do ente que trago em mim, onde encontrar a luz para guiar os meus passos?

Onde encontrar a luz para encaminhar os meus passos?

Procurando investigar e entender da melhor forma possível os ensinamentos educacionais, aplicáveis à infância, como aprendem os princípios rudimentares da puericultura moderna.

Pois bem. Vimos que os instintos constituem um organismo, que esse organismo, como qualquer outro, tem que crescer e viver. Vivendo, se desenvolve e se desenvolvendo terá que ser adaptado ao meio em que respira,

A formação da personalidade está, pois, nas mãos do artista que vai modelar da massa amorfa e inconsciente de ser vivo a alma consciente do homem de amanhã.

4 — O que somos nós quando nascemos.

Havemos, portanto, que recordar o inconsciente, antes de mais nada.

Poderíamos dizer que, quando nascemos, somos apenas INCONSCIENTES (no sentido popular do termo). A vida, nos seus primórdios, é puramente instintiva. A consciência não toma parte em nenhum de nossos atos. Só depois, com o nosso primeiro sorriso, é que começamos a ter uma ligeira noção da vida que nos cerca.

Entretanto, sem que ninguém nos ensinasse, sugamos o seio materno, choramos quando temos fome, sede, etc.. Da mesma maneira, dormimos, sentimos uma picada de alfinete, etc.

Daí deduzimos que a nossa vida, nessa época, é essencialmente instintiva. Que o inconsciente, portanto, nada mais é senão INSTINTO. Ou, melhor, instintos. Ora, certamente, tudo isso nos vem por herança. De sorte que podemos já concluir que o Inc. (*), inicialmente, é o nosso primeiro eu, o eu real, o verdadeiro eu. Por outro lado, como é fácil compreender, o Inc. é, assim, uma espécie de povoação agreste onde vive, em síntese, todo o barbarismo do homem primitivo ao lado de um punhado de formações psíquico-herdadas. Pois bem. Corno já vimos, somos nos primórdios da vida "inconscientes".

Porém, para a Psicanálise o Inc. tem uma outra significação mais ampla.

Assim, esta região do espírito é, nessa época, apenas Instintiva. Ora, como já dissemos, os instintos formam destarte o "organismo do inconsciente". É ele, portanto que se expande em liberdade, sem a menor "censura" de seus atos.

(*) Inc. — Inconsciente; C.c, — Consciente; Prec. Pré-consciente.

Os instintos, na criança, anseiam por sua satisfação integral, procurando o prazer.

Vemos aí tanto os instintos de vida, do amor (Eros), como também os de morte (Tanatos).

Aí começa a luta incessante contra este último. Tanatos revela-se a todo momento no instinto de destruição do pequeno ser, como Eros, no instinto da nutrição, da sede, etc, etc..

A esta parte instintiva, contida no Inc., dá-se o nome do vocábulo latino id".

Id é, pois, a fonte de instinto do Inc.

Portanto, em última análise, somos, quando viemos ao mundo, simplesmente id.

Nesta fase o indivíduo é uma "coisa qualquer", amorfo, impessoal.

A medida, porém, que ele vai reagindo às agressões do meio social, vão os instintos sendo orientados, educados pelas aspirações éticas e culturais do homem, formando-se, a pouco e pouco, o nosso eu moral, o eu que a educação edifica e que chamamos ego.

O ego é, portanto o centro do nosso espírito, o senso da nossa personalidade, o nosso íntimo, mas que, só num certo sentido, é conhecido por nós mesmos.

Expliquemos: Como se forma o ego? Podemos responder que ele é formado à custa do id, às espensas do id.

O ego nada mais é que um desdobramento do id, o qual, em nosso desenvolvimento, vai se diferenciando em ego, de acordo com as exigências educacionais.

Ora, se o ego é uma consequência do id, certamente há de trazer na sua construção caracteres iniludíveis do id.

Mas, dá-se ai um fenômeno interessante.

Aquilo que as exigências do preconceito social querem a todo custo encobrir (o sexual), não deve fazer parte das exteriorizações do ego.

Que acontece então? — o "sexual", suas ideias, suas exigências, seus impulsos, suas tendências, etc., etc., são "reprimidas", "recalcadas" ao id. Como? Para a sua própria defesa, o ego por sua vez se parte em duas "porções"; uma incompatível com ele (a porção "recalcada"), outra que lhe é acessível. Uma pode, portanto pertencer ao sistema Ce., outra — a recalcada — ,ao Inc.

Para que isto se dê, o ego se diferencia em superego, instância correspondente à "censura" e que nada mais é, afinal de contas, que o ideal do ego. Porque defende o ego das investidas do id, daquilo que deve permanecer oculto (tendências sexuais), evitando, portanto ao ego os impulsos do id. O superego fica assim em íntimo contato com o id.

Mais claramente: o superego é uma espécie de autoridade paterna, à qual o ego terá que obedecer.

Ficam, destarte, explicitamente compreendidas as instâncias psíquicas do Inc.

1.°) Apenas id,

2.°) parte do id que se desdobra em ego,

3.°) parte do id incompatível com o ego (porção recalcada),

4.°) parte do ego que se diferencia em superego (porção, censora).

Tudo está, como se viu, na edificação do superego

Das fraquezas deste, ou dos excessos, originam-se as mais diversas consequências (indivíduos "hipo" ou "super-morais").

Tudo está, portanto, na formação desse superego que se vai formando aos poucos com a idade, à medida que recebe as impressões, isto é, que reage às agressões do meio social. O superego é destarte a cópia em papel carbono em que os pais transmitem aos filho; as influências educacionais, quase sempre, senão sempre, as mesmas que receberam de seus ascendentes.

Assim, depois de rompido o complexo de Édipo momento em que o filho se reconcilia com o pai, o menino principia a copiar todos os atos deste, copiando lhe o caráter, imitando-lhe os hábitos, seguindo-lhe os exemplos; ou, em uma palavra, identificando-se com ele. Tudo isto como uma reação inevitável pela educação recebida.

Ora, o que a psicanálise pretende é obter uma personalidade autônoma. Ainda que isto pareça impossível, por uma série de fatores outros que, naturalmente, independem dos educadores, nem por isso devemos deixar de procurar todos os meios adequados e que estão na sua maioria ao nosso alcance, para, pelo menos nos aproximarmos, quanto possível, desta finalidade.

Há aqui, porém, uma pergunta, perfeitamente cabível a fazer:

E os fatores hereditários, se já foi dito que no próprio inconsciente eles influem de maneira iniludível?

Sem dúvida alguma que a hereditariedade influi acentuadamente. Porém, não estamos de acordo, em absoluto, com a opinião do prof. Sciammana, quando assegura, com o peso da sua autoridade, que nenhum vício de conformação, nenhum estado patológico, nenhuma influência hereditária, transmitidas através de gerações, são necessárias para que a educação exerça a sua ação benéfica.

Além do prof. Sciammana esquecer-se de que a eugenia é uma ciência que caminha e progride ao lado da psicanálise, poderíamos acrescentar (felizmente) que as taras, as degenerescências, os vícios hereditários enfim, escapam à regra geral. Além disto, muita coisa, aliás, que até hoje tem passado como taras, degenerescências, vícios hereditários, etc., com a responsabilidade de cientistas de renome, foi experimentalmente destruída pela prática psicanalítica que mostrou, em centenas de casos a sua origem em meros "traumas" anímicos, ocorridos nos primeiros anos da existência infantil.

Também Augusto Forel, assim se exprime: "onde quer que as disposições hereditárias apresentem uma média normal, a educação pode, ao contrário, fazer muito para evitar excessos, erros e hábitos patológicos e dirigir sabiamente os desejos".

E mais:

Ainda que se queira fazer concessões a muitos psicólogos, que negam a eficácia da educação sobre o caráter, teremos que chegar, com vantagem para nós a esta conclusão: Se a educação não tem o poder de destruir as más tendências hereditárias, mas tem o poder de desenvolver outras que compensam as primeiras, como quer Despine, a educação seria, ainda evidentemente de uma vantagem considerável.

Ou:

Se a educação, repetimos, - como quer Ribot - tem o poder de modificar para o bem somente as naturezas médias, isto é, sobre aquelas que não são acentuadamente boas, nem acentuadamente más, ainda aí possui um alto valor como meio preventivo de ações reprováveis.

Deixando de lado ainda outras considerações, que damos por inúteis, dada a finalidade do nosso trabalho, diremos que não é esta educação corrente que a psicanálise visa.

Aquela instrui antes de educar, esta educa antes de instruir.

Prosseguindo, desse modo, nas considerações que vínhamos fazendo, concluiremos então que a educação sexual deve ser iniciada desde os primórdios da vida e não mais tarde, ao nunca, como é corrente ouvir-se.