Sinceramente, a cada dia ando mais decepcionado. È verdade. Uma decepção ideológica que me consome a bastante tempo,desde o dia em que ingressei na faculdade.Parafraseando o professor de metodologia na primeira semana de aula, ele afirmava: ”somos uns privilegiados em fazer parte de uma nata intelectual”. Mas ate agora, ando meio perdido, e pensando profundamente: meu deus, o que significa ser um intelectual?
Antes eu imaginava que estudar em uma universidade era algo importante. De cumprir algum papel na sociedade. Reconstruir o saber pensado para um futuro aberto. Ou então, discutir idéias para manifestações sociais e fazer valer transformações. Quem sabe, rupturas, coalizões. Sei lá. Ser encarregado de uma missão sublime e enaltecedora.
Ainda numa visão mais romântica, imaginava uma turma mais integra de seres pensantes e de uma visão mais racional e menos óbvia. Digamos que possuíssem uma indignação profunda com a educação bancária que ainda infelizmente se faz presente e passa despercebido, até mesmo na própria faculdade, diante dos olhos de uma legião de otários.
Mas pura ilusão. Vejo que ser intelectual é correr atrás de nota, ficar questionando valores de avaliações, ou então, como diz Stephen Kanitz: ”ficar na teoria, avacalhado numa redoma de vidro”. Escrever nada com nada, fazer inimizades com colegas por causa de trabalhos mesquinhos, se achar o mais idiota da turma por ter tirado uma nota mais alta do que a dos outros. Ser intelectual é estar preso a uma loucura endêmica de obrigações burocráticas, prazos estabelecidos por professores. Um dia, sem querer, deixei de entregar um trabalho e a professora me ameaçou: ”olha você vai ficar sem nota viu” e aquilo tudo me soou como uma tragicomédia, digamos que um regresso aos tempos de ensino infantil.
E ainda há aqueles intelectuais que adoram desbravar-se diante do obvio, nas explicações. È isso mesmo!Ainda estamos interpretando as coisas como no tempo de escola, em que o professor fala e as “ovelhas” repetem tudo o que esta sendo passado. E parece que essa ‘supremacia-truista’ os torna superior diante da turma e faz estufar os peitos e dizer: sou o mais “inteligente” mesmo que timidamente. Ou então, serve para ser apontado pelos outros como o mais “queridinho” de professor A ou B. As veses penso: será que eu estou no lugar certo?
Honestamente, quem anda atrás de nota, ou vive no mundo acadêmico dessa forma, só tem dois motivos para estar assim: ou deve ser muito ingênuo, ou deve estar com algum problema no que se refere a auto-estima. Só pode. Fico a imaginar, certamente anda com problemas no trabalho ou em casa, e da um duro estudando para ver se sobressai em algo.
Semana passada, quando a professora entregou as avaliações , vi uns “intelectuais” se surpreendendo: “Nossa! Tirei 7,5!” E pulava num êxtase profundo.
Na minha cabeça passava um flashback , em que me fazia lembrar do Silvio de Abreu quando escreveu para a revista Veja. Ele afirmava que a sociedade brasileira esta emburrecendo. Pois é, sou obrigado a concordar com ele. Sinto a ignorância e a boçalidade, nessa nova Era, em que se diz que a sociedade terá oportunidade de galgar vários títulos acadêmicos.
**Danillo Cerqueira Barbosa é escritor, professor,estudante,e reside atualmente na cidade de Santo Antonio de Jesus, Bahia.Escrito em 18/09/2006
E-mail: danillo1987@hotmail.com